O que nos diz o “Carreiro das Cobras”

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

A solução preconizada pelo Bloco vai contra a corrente: é pela preservação do espaço, mantendo no essencial o existente - o caminho, as árvores e a envolvente, um caminho rural dentro da cidade para a valorizar.

Em boa hora, o Bloco de Esquerda colocou o “Carreiro das Cobras” na agenda política local. O debate tem sido interessante e várias opções foram sendo conhecidas. É um bom exemplo para percebermos o que é que cada partido político ou visão política pretendem para Torres Novas, que futuro nos está reservado se o timoneiro for o partido A, B ou C.

A solução que está prevista para aquela zona passa pela sua transformação radical - uma rua larga com o respetivo alcatrão, uma rede divisória da rua para os terrenos adjacentes, portanto muita presença de carros com as consequências conhecidas, ruído, poluição visual e poluição do ar, insegurança para peões e ciclistas. Acresce a isto que as árvores centenárias, carvalhos e sobreiros ali existentes, correm sérios riscos de serem abatidas (espero que nunca). Ou seja, o que o PS e o PSD querem para aquele local é mais do mesmo, alcatrão e betão armado.

A solução preconizada pelo Bloco vai contra a corrente: é pela preservação do espaço, mantendo no essencial o existente - o caminho, as árvores e a envolvente, um caminho rural dentro da cidade para a valorizar.

Estas são diferentes visões para o “Carreiro das Cobras”, mas são extensivas a todo o concelho, são elucidativas do que é que os torrejanos e torrejanas podem esperar, dos diferentes partidos e até a sua estratégia para os próximos quinze ou vinte anos.

Veja-se o abandono de décadas do rio Almonda, sujo, poluído, escondido… veja-se o abandono de décadas do centro histórico da cidade, veja-se a ausência total de incentivos aos meios de transporte não poluentes, das ciclovias inexistentes aos obstáculos e armadilhas para as deslocações pedonais, veja-se, ainda, a aposta total na construção nova, cujo resultado são loteamentos a mais e loteamentos abandonados. Alguns dirigentes políticos locais ainda não perceberam (ou não querem perceber) que a população diminuiu e é cada vez mais velha. Estes dois factos só por si deveriam ser suficientes para repensar toda a estratégia seguida até agora. Mas como não se pensa a médio e longo prazo, também não se planeia e o que conta é o imediato, como se o que importasse mesmo fosse a competição a olhar para o umbigo para ganhar o prémio “o meu mandato é melhor do que o teu”. Por isso, destruir os “carreiros das cobras” é que está a dar. Veremos o que nos vai dizer a revisão do PDM.

O desenvolvimento das terras, das cidades já não se mede pela quantidade de alcatrão espalhado (melhor fora que o dito fosse aplicado numa rede viária em condições e em segurança para todo o concelho), mede-se pela importância que se dá à qualidade de vida, às árvores, à água, aos rios, à serra, aos veículos não poluidores, à reconstrução das habitações, ao ambiente, ao planeta, pois só existe este.

O futuro tem seguramente vários caminhos para lá chegar, mas escolhas fazem-se agora.