Coisas do senso comum

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

Quando não se sabe, nem se sequer saber, julga-se sempre que se sabe tudo, coisas do senso comum

Bem sei que escrever, tomar posição, abordar este assunto não é nada popular, a malta se pudesse levar o carro para dentro do café de forma a ser assim atendido era o que acontecia… Vem isto a propósito da colocação de mais uma dúzia de lugares de estacionamento no largo Humberto Delgado, vulgo rotunda do Rossio, uma obra que já levou um significativo número de alterações desde o projeto inicial e levará mais até que toda a clientela esteja satisfeita.

A câmara municipal ao invés de promover outras formas de locomoção mais suaves, continua a promover o automóvel, mesmo nestes tempos em que estamos todos obrigados a mudar hábitos e as instituições como as câmaras municipais, estão mais obrigadas como é obvio.

Isto acontece quando a mesma câmara promove um debate sobre ordenamento do território, em concreto sobre a mobilidade e os especialistas convidados vêm dizer que este é o tempo dos transportes suaves, alternativos ao automóvel, é o tempo dos carros darem o seu lugar aos peões e às bicicletas, é o tempo de virar da ditadura do automóvel para a democracia da mobilidade coletiva, suave e amiga do ambiente.

Mas nem isso valeu de alguma coisa.

O combate às alterações climáticas é assunto que ainda não chegou ao município torrejano, ainda não perceberam ou não querem perceber que o tema é sério. Veja-se os espaços verdes que continuam a promover com as consequências imediatas no consumo de água. Existe alguma necessidade de arrelvamento de todas as rotundas, pergunto eu? Podemos continuar a gastar a água potável que lá é consumida, cara e escassa, na manutenção daqueles espaços? Ninguém dentro do município a começar pela vereação consegue perceber a responsabilidade que tem nesta matéria?

E o senso comum também não consegue ver a contradição que é colocar os pesqueiros no rio, logo naquele espaço que é considerado consensualmente como viveiro, como local de reprodução dos peixes, como reserva de vida para quase todo o rio, junto à ponte do Raro? Será que é necessário fazer mais um regulamento que diga que ali não se pode pescar?

O senso comum também aconselhava, digo eu, que estou sempre enganado, que no espaço anteriormente ocupado pela Fábrica Grande, antes de decidir seja o que for se ouvissem as opiniões, se ouvisse a cidadania, se desse a palavra a especialistas na ocupação do solo e no reconfigurar das cidades, mas ao que parece já alguém decidiu tudo, até clinicas privadas estão incluídas naquele espaço.

Quando não se sabe, nem se sequer saber, julga-se sempre que se sabe tudo, coisas do senso comum.

António Gomes

Crónica publicada no "Jornal Torrejano"