Como se fossem donos disto tudo

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

Quem gere os dinheiros públicos tem mais obrigações que o comum dos cidadãos/ãs, a ética não é para trazer no bolso.

Quem ocupa lugares de poder nas instituições ou serviços públicos sabe, ou deveria saber, que está sujeito ao escrutínio público e ao escrutínio dos órgãos fiscalizadores existentes, entre estes, aqueles que foram eleitos para esse efeito.

Sabe que a sua conduta tem de ser transparente e rigorosa. Quem gere os dinheiros públicos tem mais obrigações que o comum dos cidadãos/ãs, a ética não é para trazer no bolso.

Todos assistimos nos últimos meses por parte de um número significativo de governantes ao comportamento tipo “ética é para os outros e não para mim”.

O projeto EVA (Equipa Vida Ativa), iniciativa do presidente da Câmara, não passou do início. Foi apresentado com pompa e circunstância, mas não passou disso (sempre ajudou à campanha eleitoral o que já não é mau de todo), mas o curioso ou melhor a gravidade da coisa foi a forma como se tentou esconder o sucedido, foi o silêncio ensurdecedor que se ouviu da parte do presidente acerca do fim deste projecto.

Pode acontecer a qualquer um, as coisas às vezes não correm da melhor maneira e isso deve ser assumido, deve ser transparente, deve ou devia ser normal, assim como se anuncia o projecto, assim devia ser assumido o desaire, no mínimo junto dos seus pares - câmara municipal e assembleia municipal, mas isso seria assumir uma “derrota” e o PS local não convive bem com isso, apesar deste projecto EVA ter como parceiros a ARSLVT (Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) e o ACES do Médio Tejo, presentes no acto de lançamento.

Não fosse o Bloco de Esquerda e tudo seria normal, do projecto EVA ninguém se lembraria e ao novo protocolo da Câmara com a MKA, cedência gratuita por três anos e renovável do antigo edifício da CGD, aconteceria o mesmo, a decisão até foi por unanimidade.

Mas, pergunto eu,  não passou pela cabeça do presidente ou dos vereadores que entregar um edifício acabado de adquirir por 200 mil euros a uma empresa privada (quantas empresas não gostariam de ser assim tratadas) seria ir longe demais? Que neste município alguém teria a curiosidade de saber a razão de tal “prenda”, que nos dias de hoje a internet vai depressa a todo o lado e que alguém poderia chegar à conclusão que MKA e EVA poderiam de algum modo estar próximas uma da outra?

Esta é a marca das maiorias absolutas, seja no governo da nação ou no governo local. Um pouco de ética e de transparência estão a fazer muita falta nesta gestão da coisa pública. Como também já se provou, não se é “dono disto tudo” para sempre.