Educar com sentido

Professora, pintora, autarca do BE na Câmara Municipal de Torres Novas

(...) recorrendo a um suporte teórico assente em discursos ultrapassados do sucesso (qual?), excelência (de quê e de quem?) e competitividade (para quê?), o PEEM apresentado apoia-se numa assumida estratégia de continuidade (...)

“(…) a cidade oferece importantes elementos para uma formação integral

(Carta das Cidades Educadoras)

O ano de 2018 foi marcado por dinâmicas educativas que estão a ser implementadas nas escolas, como a Flexibilidade Curricular, a nova disciplina de Cidadania, o enfoque nas expressões como áreas de saber que agregam conhecimentos multidisciplinares, dinâmicas de pesquisa facilitadoras de novos formatos educacionais, o enfoque na expetativa dos/as estudantes a partir das suas preocupações e questões, o papel do/a professor/a como mediador/a de conhecimentos e potenciador/a de experiências de aprendizagem significativas, além da estratégia nacional para a inclusão e integração.

Dentro deste contexto é apresentado o Plano Estratégico Educativo Municipal que foi disponibilizado para consulta pública, sobre a qual aguardamos resultados. Pela análise do documento podemos verificar como preocupantes, entre outros dados, um saldo migratório negativo, um elevado nº de casas vazias, porém fora do mercado de arrendamento (mais de 3000), um RSI muito elevado, ou seja um grande nº de famílias abaixo do limiar da pobreza. É referido ainda que em 2025 o concelho perca perto de 3500 habitantes com uma agravada diminuição de 1000 estudantes.

O Bloco de Esquerda apresentou o seu contributo para a discussão. Referimos entre outras medidas, que é importante, face ao novo paradigma educacional, um impulso na formação de docentes, além do pessoal não docente; uma resposta ao nível das instituições, associações, empresas e espaços formativos, numa correlação em rede e na ambição conjunta de envolvimento e desenvolvimento; um reforço educacional, formativo, cultural e social em relação à integração de todos os estudantes, assegurando as condições mais adequadas ao envolvimento de atividades capazes de garantir as aprendizagens comuns e as específicas, necessárias para a realização dos seus projetos de vida; uma planificação construtiva em relação ao tempo livre; a criação de medidas consistentes para a literacia ecológica, na implementação de práticas ecoeducativas urgentes, entre outros dispositivos estratégicos possíveis.  

Porém, recorrendo a um suporte teórico assente em discursos ultrapassados do sucesso (qual?), excelência (de quê e de quem?) e competitividade (para quê?), o PEEM apresentado apoia-se numa assumida estratégia de continuidade, sendo omisso em relação à formação de professores/as, à criação de suportes alternativos de formação profissional e vocacional para jovens que não tencionam prosseguir estudos, à ocupação do tempo livre de forma significativa para jovens, a estratégias de promoção de ações para a inclusão, entre tantas ideias que nos ocorrem, quando se procura perseguir os desígnios de uma comunidade potencialmente educativa, uma “cidade educadora” e um “território com sucesso sustentável” (embora este último objetivo estratégico fosse necessário clarificar). Fica o desejo de um ano novo que nos ofereça um PEEM com uma visão mais atual, maior ambição e um pouco mais de rasgo.

 

Publicado no Boletim Municipal (3.º e 4.º trimestre 2018)