Falar com o vizinho.

Estudante, autarca do BE na Assembleia de Freguesia de Meia Via

Esperança principalmente porque há pessoas a falar da crise climática e como podemos não só meter o pé no travão deste autocarro descontrolado, que poucos insistem em acelerar, mas construir a estrada pela qual decidimos ir.

Quando alguém fala em alterações climáticas é inevitável pensar em esperança. Isto é, logo depois de corrigir que o termo correto é crise climática. Esta crise que nos é vendida como sendo um problema de cada uma de nós, por não reciclarmos, por ir de carro para o trabalho ou por usar compulsivamente estes quadrados eletrónicos é resultado de uma campanha publicitária da BP (empresa fóssil) de 2004. Segundo o Relatório de Desigualdade Climática a fração dos 10% mais ricos são responsáveis por 48% das emissões de gases com efeitos de estufa (GEE), se focarmos no setor da aviação (a forma de transporte mais intensiva de carbono) apenas 1% da população causa 50% das emissões de GEE deste setor. Enquanto isso 80% da população mundial nunca colocou um pé num avião. Enquanto uns voam em jatos privados, milhões de pessoas em regiões pobres enfrentam reduções de 30% ao nível de produtividade agrícola, isto é, enfrentam fome. Em Portugal enfrentamos problemas semelhantes, seja quando no verão passado o nosso Rio Almonda secou pela 3ª vez nos últimos anos, seja no futuro quando estes problemas se agravarem (e vão agravar). Ao mesmo tempo, 780 milhões de pessoas globalmente enfrentam cada vez mais cenários catastróficos de cheias, por azar as regiões mais pobres são mais afetadas, mas também Alcântara ocasionalmente.

Mas penso em esperança, nas políticas industriais que permitam investimento público em renováveis (on/off grid), mas que permita haver transferência dos trabalhadores afetados pela transição (ao contrário dos trabalhadores de Matosinhos, ou Pego). Na proibição de novos investimentos em energia fóssil, isto em Portugal significa: Parar o Gás. Em esperança de haver rede de transportes públicos que permitam às pessoas ir para o trabalho, ir para a aldeia e voltar à cidade. Esperança em que ao reduzirmos o número de carros que circulam nas cidades, reduzimos os níveis de poluição do ar e por conseguinte reduzimos também AVC's, cancros no pulmão, entre outras. Devolvemos também a rua para as pessoas, espaços de convívio e para comércio.

Esperança principalmente porque há pessoas a falar da crise climática e como podemos não só meter o pé no travão deste autocarro descontrolado, que poucos insistem em acelerar, mas construir a estrada pela qual decidimos ir. O sistema capitalista que cria esta crise climática, é o mesmo sistema que lucra com ela. É o mesmo sistema que leva aos lucros de milhares de milhões de lucros das empresas fósseis. Se tu ganhasses 1000 euros desde o dia em que o Júlio César foi assassinado até ao dia de hoje terias menos dinheiro do que os lucros da GALP só em 2022. E a GALP é um peixinho no tanque de tubarões das empresas fósseis. Há responsáveis por esta crise, não és tu, não sou eu e tenho esperança de que coletivamente possamos travar a crise climática nas ruas utilizando todas as tácticas possíveis. O primeiro passo é perceber que esta crise tem responsáveis, o segundo é ter esperança e por último falar com o teu vizinho.