Sempre me ensinaram que não se deve reagir a quente. Por muitas vezes que o tenha ouvido, continuo a aprender a ser mais calmo e menos emocional na exibição das minhas opiniões.
Por essa razão, falo-vos dum tema maturado mas que, aparentemente, chegou ao seu fim político: a vacinação indevida do vereador Carlos Ramos.
Antes de avançar, devem saber que não acredito em trincheiras em política. Mesmo que tenhamos ideais diferentes, parto do pressuposto que todos queremos o melhor para todas e todos.
Como membros ativos da vida política local, a nossa responsabilidade é maior. Tudo o que se faz pode ser alvo de escrutínio, muito mais quando se detém cargos a tempo inteiro na gestão de pelouros cruciais da atividade municipal.
O escrutínio e a sensibilidade dos munícipes aumentou nestes tempos da pandemia e acabam por contribuir para o extremar de posições.
No entanto, há assuntos que são demasiado graves para serem afogados pela pandemia.
Li muitos comentários nas redes sociais sobre este assunto. Há quem defenda que o vereador devia demitir-se e quem defenda que não fez nada de errado.
Por muito que me tente colocar no lugar de Carlos Ramos, há duas coisas que não entendo. Que se tenha esquecido do valor da confiança nas instituições democráticas e que tenha aguentado tamanho vexame.
Fala-se sobre deitar a vacina para o lixo ou dá-la ao vereador. Eu não acredito nesta versão, já que Torres Novas tem uma dimensão que permite, rapidamente, encontrar quem possa levar a vacina.
Ainda assim, a vacina seria melhor descartada do que administrada a um vereador. Pode chocar ouvir algo assim nestas épocas que vivemos mas a democracia não tem a validade de uma pandemia. O benefício de uma vacina dada a um responsável político é infinitamente inferior ao prejuízo causado à democracia por um ato tão descabido.
Nem me passa pela cabeça estar a acusar o vereador Carlos Ramos de se ter aproveitado da situação, já que só ele saberá. O que não precisamos nesta fase, é que mais cidadãs e cidadãos aumentem a desconfiança em quem os deve representar, fazendo acusações de “é sempre a mesma coisa e sempre para os mesmos”.
Assumindo que tudo tivesse sido um lapso no julgamento do vereador, melhor teria sido assumir a situação, discutir abertamente o assunto e tentar enfrentá-lo, mesmo que ele ainda acredite não ter feito algo de errado. Como a opção foi o secretismo, as dúvidas e desconfiança aumentam, naturalmente.
Ter a cumplicidade do Presidente para esconder a situação, aguentar a vergonha de ficar sem o pelouro perante todo o executivo e ainda ficar calado, é algo que nunca vou entender. Esperava mais do vereador mas sobretudo, do homem.
Boa semana.
Às 2.ªs Feiras na Torres Novas FM