Mais Bloco para reforçar a Esquerda
por Pedro Gouveia
Como todos sabem, estas eleições são fulcrais para o país andar para a frente, para que haja estabilidade governativa e social no país. Atravessamos tempos difíceis e é necessária uma governação que apresente propostas para lidar com as faltas que assolam o país: seja a falta de professores (e pagar o tempo devido), a falta de profissionais de saúde no SNS, a falta de habitação e os preços exorbitantes que são praticados, e a falta de condições de vida que a população tem e que impedem de viver uma vida tranquila e estável.
Comecei a escrever este texto ao ouvir na TV o resultado das eleições na Região Autónoma dos Açores. Fiquei bastante preocupado com a percentagem do Chega. Foi o Partido que mais subiu (4,1%) e já vai com 5 deputados, sendo a terceira força política. O PS por outro lado, foi o partido que mais desceu, perdendo dois deputados e 3,2% do eleitorado. O Bloco de Esquerda desceu também, ficando agora com um deputado. O PAN e o Iniciativa Liberal ficaram com o mesmo número de deputados.
Isto significa que os Açorianos estão revoltados com a situação atual de onde vivem, e esta revolta é tal que votam no Chega: um partido de protesto com medidas meio aleatórias e que ninguém conhece bem; porém como dizem ser contra a corrupção, contra o “tacho” e contra o sistema e contra tudo; puxam pela indignação da população, levando-a a votar neles, pois como dizem, “vão varrer com os corruptos todos”.
Isto seria quase ótimo, se não se passasse quase o contrário: muitos dos mais recentes associados do Chega são Ex PSD e Ex IL, que não tiveram direito aos “tachos” nos seus Partidos anteriores e tentam a sua sorte. É o caso caricato de uma recente “aquisição” do Chega: o deputado ex – PSD António Maló de Abreu, pertencente agora ao Chega, declarou residir em Luanda, que o fez receber cerca de 75 mil euros em subsídios, ajudas de custo...”tachos”, digamos.
Porém, o que mais me preocupa é que este simples “mandar bitaites para o ar”, de querer varrer corruptos, é o suficiente para adquirir votos. O facto dos salários serem baixos, os preços altos, a degradação contínua do SNS e da Educação, a falta de habitação entre outros, está revoltando a sociedade portuguesa de tal modo, que mesmo a xenofobia está a aumentar a olhos vistos, particularmente contra os imigrantes vindos da Ásia (Nepal, Bangladesh, Índia,...). O Chega e apoiantes apelam a estes ódios culpando a vinda dos imigrantes pela falta de trabalho e habitação, quando são eles que trabalham naquilo que “não queremos” (apanha da fruta, agricultura, pesca, etc) e os seus descontos para a Segurança Social são significativos.
Alguns portugueses já se esqueceram que um tal de Passos Coelho mandou uma geração inteira de licenciados (e não só) fazer-se à vida por Europa fora e que muita falta fariam hoje; mas eu não me esqueci.
A Direita diz que a Esquerda pretende transformar o país numa Venezuela, quando as realidades são completamente distintas. Pois eu digo que a Direita pensa que é possível tornar Portugal numa Suíça quando tal é uma utopia. São realidades completamente diferentes. Em Portugal há uma política de pagar o menos possível aos trabalhadores, para obter maior lucro e poder-se comprar Teslas e Porsches. E depois temos a nossa banca: enquanto o BPI aumentou o lucro em Portugal em 86% (444 milhões de Euros) devido à subida dos juros, temos milhões de pessoas que têm dificuldades em pagar esses mesmos juros, ou que pura e simplesmente não conseguem. Há pessoas com trabalho a viver na rua por não poderem pagar um quarto (vi há umas semanas numa reportagem de um Telejornal) e isso é inadmissível.
A Esquerda tem que se unir. Tem que fazer compreender à população que não faz sentido criar parcerias com o privado na Saúde. Em teoria parece que corre tudo muito bem, até porque as PPP já existiram, mas na verdade é mais dispendioso para o Estado. Vejamos: imaginemos que um médico do público ganha 2000 euros mensais e um do privado ganha 3500. Sendo que a empresa privada tem que pagar esse salário e os descontos agregados, a mesma tem que fazer lucro, logo tem que receber mais do que paga. Isto significa que o Estado está a deitar dinheiro fora, quando poderia, por exemplo aumentar o salário dos seus médicos para 2800 euros (digamos), aproximando da concorrência, ao invés de pagar um salário mais elevado e lucros associados a outra empresa. É como eu ter preguiça e pagar a alguém 10 euros para me comprar um pão com chouriço quando depois de o ter comido chego eventualmente à roulotte e o pão com chouriço custava apenas 4 euros, podendo eu ter ido comprá-lo.
Não nos enganemos camaradas. A luta é dura e árdua. E será difícil convencer as pessoas que não somos o PS e que pior ainda será a vinda do Chega. Mas ainda há tempo, decorrem agora debates de ideias e propostas eleitorais e temos que estar perto do povo. Porque a geração dos nossos pais e avós não lutaram pelo 25 de Abril por nada. E porque o 25 de Abril faz 50 anos neste preciso ano! Fascismo nunca mais.
Pedro Gouveia