Nós, seres humanos, habitamos e partilhamos este mesmo Mundo, algo que nos une enquanto Humanidade. Ainda que todos façamos parte de uma realidade universal, possuímos uma identidade baseada nas nossas próprias experiências pessoais e características únicas. Esta diversidade de contextos resulta, necessariamente, na formação de ideias e pontos de vista distintos e, muitas vezes, altamente incompatíveis, o que deveria ser aceitável e perfeitamente compreensível.
Ainda que a sintonia e a concórdia tragam, naturalmente, um sentimento de satisfação e bem-estar, há que realçar a utilidade que o debate, decorrente de posições divergentes, pode ter enquanto possível fortalecedor das nossas opiniões e dos argumentos que as sustentam, sendo também um espaço de troca, aprendizagem e crescimento. Habitualmente, a discórdia provoca tensão, raiva e ódio, que se traduzem no insulto gratuito, ataque pessoal, arrogância, falta de respeito e censura, retirando à arte de debater a sua verdadeira beleza e potencialidade.
O debate, enquanto ferramenta essencial da actuação política, deve basear-se tanto na apresentação de argumentos lógicos como na capacidade de ouvir a outra parte. Para isso, devem concorrer a tolerância e o respeito pela diferença, a noção de que diferentes perspectivas podem ser ajustáveis e que, quando não haja essa possibilidade, o conflito não tem de ser a solução. Se as ideias nos separam, então que a consciência de que são meras ideias, susceptíveis ao debate, seja motivo de união e de força colectiva.
Acredito que a intolerância e desrespeito pelo outro, pelas suas ideias e pela sua realidade, que nos pode ser totalmente estranha, é o maior entrave ao bom debate. Daí resulta que, muitas vezes, tendamos a associar o debate a uma lógica de ataque-defesa, como se essa fosse a sua essência. A discussão produtiva é benéfica não só porque ouvimos e compreendemos melhor o outro, mas também porque temos a oportunidade de nos ouvirmos a nós próprios, o que nos leva, frequentemente, a desafiar a nossas próprias convicções.
Creio que, para além de aguçar o pensamento crítico de cada um de nós, e de auxiliar na tomada de decisões, o simples acto de debater fomenta a empatia, a compreensão e o respeito pelo outro. Tendo em conta que quaisquer pontos de vista estão condenados ao subjectivismo, é nosso dever, principalmente no contexto político, avaliar as várias hipóteses, os prós e os contras, levantar questões e procurar respostas.
Ao contrário do que estamos habituados a pensar, o debate pode e deve ser praticado não só no cenário político, mas também no dia-a-dia em sociedade: uma sociedade que pensa e debate é riquíssima, tendo a capacidade de melhor filtrar informação manipuladora, quer com o objectivo de vender produtos, quer com o objectivo de vender ideias.
A ditadura de pensamento é real e corrói a sociedade, manifestando-se desde a infância até à velhice - desde cedo, bloqueamos e padronizamos o pensamento da criança, não apelando ao seu espírito crítico - contribuindo, infelizmente, para a construção de uma sociedade aprisionada pelos seus próprios hábitos, amedrontada pela possibilidade de sequer os questionar e sair da sua zona de conforto.