Voto inútil

Estudante

A atuação do PS nos últimos quatro anos em nada justifica a tendência dominante de concentração de votos nesta candidatura.

                                                          

Os resultados das eleições do passado dia 26 de setembro, às quais se candidataram uma quantidade considerável de forças políticas, revelam que a maioria dos torrejanos escolheu, mais uma vez, ser representada pelo Partido Socialista (PS) nos órgãos autárquicos. A abstenção mantém valores inaceitáveis, traduzindo o desinteresse e o afastamento da decisão política, a descrença nos órgãos representativos e no próprio sistema democrático atual e, acima de tudo, o cansaço e alheamento generalizados.

A atuação do PS nos últimos quatro anos em nada justifica a tendência dominante de concentração de votos nesta candidatura. O que poderá servir de justificação, e referindo-me agora apenas ao que se pode relacionar diretamente com a atuação política do partido, será o grau de implementação do seu aparelho político e das suas teias de poder que se têm vindo a alastrar durante 30 anos. Favores, carreirismos, conveniências, dependências e interesses vários.

Estas foram eleições particularmente imprevisíveis, com o aparecimento de alguns recém-criados partidos políticos. Contudo, parece-me a mim, que a entrada em cena do Movimento P’la Nossa Terra foi determinante para os resultados destas eleições. Da esquerda à direita, houve quem acreditasse na suposta independência, vivacidade e novidade deste movimento. É certo que os seus resultados ficaram aquém, contrastando com o espírito vitorioso que se sentiu por parte dos candidatos independentes nos últimos dias de campanha, mas é também importante que se analise este fenómeno eleitoral sem perder de vista o impacto que teve essa mesma candidatura. A grande festa protagonizada pelo movimento independente alarmou os torrejanos, roçou o ridículo, e virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Se muitos ficaram contentes, saudosistas e nostálgicos, outros sentiram-se amedrontados, e a maioria da comunidade torrejana viu-se confrontada com uma grande fantasia e farsa eleitoral: a de que as hipóteses de escolha seriam essencialmente duas, o PS ou o Movimento P’la Nossa Terra. E a votação foi exatamente nesse sentido, votar no PS para não possibilitar a eleição do ex-presidente António Rodrigues, ou apostar no novo movimento como forma de afastar o PS da governação, sendo que tanto uma opção como outra poderão ter sido adotadas tanto por eleitores de esquerda como de direita.

O partido que já conta anos e anos de poder saiu a ganhar, o movimento independente não saiu nem perto de vitorioso e as alternativas de esquerda receberam uma votação minoritária. As provas de trabalho realizado com competência e firmeza ideológica, de facto, parecem não ter lugar no cenário político local. O sentimento que fica é, simultaneamente, de frustração e indignação.

Mariana Varela

Crónica de Opinião publicada no "Jornal Torrejano"