Discurso de Diogo Gomes
Camaradas, torrejanos e torrejanas,
Apresento-me a estas eleições como um jovem de Torres Novas, um entre tantos que ama esta terra, mas que cresceu a ver o seu futuro ser adiado vezes sem conta.
Estamos cansados de esperar por contratos que não sejam precários. Cansados de esperar que uma renda não consuma metade do nosso salário. Estamos fartos de ser empurrados para fora de Torres Novas, não por opção, mas porque aqui as portas fecham-se perante nós. Trabalhamos em cafés, em armazéns e em part-times eternamente “temporários”. No fim do mês, não sobra nada: nem tempo, nem dinheiro, nem vontade.
E quando procuramos casa? Deparamo-nos com pouca oferta a preços exorbitantes e com habitação pública que só existe no papel. Quantos jovens casais continuam em casa dos pais, não por comodismo, mas por falta de alternativas? Quantas crianças crescem sem espaço próprio, sem privacidade, sem a dignidade de um lar? Mas este é apenas um lado da história.
A cultura continua a ser tratada como um luxo. No entanto, é nela que muitos jovens encontram refúgio e identidade: num ensaio de teatro, num mural pintado, num palco improvisado de uma coletividade. Quantos destes espaços têm apoio? Quantos projetos ficam por fazer por falta de uma sala, de transporte, ou de orçamento? No desporto, a história repete-se. Temos atletas com talento, com garra, com resultados. Mas falta todo o resto. E depois dizem-nos que os jovens estão “desligados”. Mas como é que nos ligamos a um concelho que não nos ouve?
Até quando falamos de identidade, de liberdade, de igualdade, ouvimos as cigarras. Sim, é importante ver a bandeira do orgulho LGBT+ na Câmara e foi graças à insistência do Bloco. Mas isso não basta. Faltam espaços seguros. Faltam psicólogos. Falta formação. Quantos jovens em Torres Novas ainda escondem quem são, por medo da rejeição ou da violência?
E já que falamos em violência doméstica e machista, a resposta continua a ser mínima. Prometeram um plano municipal. Ele existe, mas é tímido na ação. E cada dia que passa sem resultados é mais um dia em que alguém fica sem saída. Tudo isto numa cidade que se diz moderna, mas tem o centro histórico em ruínas. Casas a cair. Passeios intransitáveis para quem usa cadeira de rodas. Fala-se em revitalizar. Mas como, se ignoram quem aqui vive? O Plano Municipal de Ação Climática foi escrito e depois esquecido. Enquanto isso, o Almonda seca. Os verões tornam-se insuportáveis. As zonas verdes encolhem. E então, o que tem feito a Assembleia Municipal? A maioria que ali se senta já esqueceu que está ali para fiscalizar, para questionar o executivo. Esqueceram as freguesias, os bairros, as pessoas. O Bloco esteve e está cá para mudar isso. Propusemos transportes urbanos gratuitos, e conseguimos. Defendemos parques infantis inclusivos, para todas as crianças, com ou sem deficiência. Queremos políticas de habitação, cultura e igualdade reais, que se reflitam na vida das pessoas. Porque a política é isto: cuidar, ouvir, agir.
E a juventude tem de estar no centro destas decisões. Não como promessa para amanhã, mas como força presente, viva, transformadora. E a quem nos diz que “a política não é para jovens”, respondemos: Torres Novas também é nossa. E se é nossa, temos o direito e o dever de a transformar. Mas para isso é preciso envolvimento, consciência e luta. Que nos encontremos nas ruas, nas assembleias, nas escolas, nas coletividades, nos lugares onde a política deve nascer. Porque quando a juventude se levanta, a cidade não volta a ser a mesma. É isso que aqui vimos fazer.
Dar continuidade ao trabalho firme e incansável dos eleitos do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal, Rui Alves Vieira e Roberto Barata, que, ao longo do último mandato, mostraram o que é estar ao lado das pessoas, fiscalizar o poder e propor soluções reais. E esse trabalho não termina aqui. Esta nova equipa, com novas vozes e rostos renovados, vem com a mesma força e com a mesma determinação.
Torres Novas pode ser um exemplo de mudança. Se queremos uma cidade viva, essa mudança começa hoje, começa connosco. Porque uma Torres Novas viva e solidária não se cala perante a injustiça — nem aqui, nem em Gaza, ou qualquer parte do mundo.