Quem sai e quem fica

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

Os vários poderes do Estado, politico, económico, judicial, não podem fingir que não veêm, que não ouvem ou que não cheiram, ou sai a Fabrióleo, ou saem as pessoas.

Mais uma ação de protesto expressando a vontade de quem não aceita o destino que lhe querem impor. Assim foi o “ajuntamento de pessoas conscientes” no passado 23 de Fevereiro, como lhe chamou o movimento “BASTA”.

Algumas centenas de pessoas manifestaram-se, mais uma vez, contra a poluição na ribeira da Boa Água e contra a poluição atmosférica que inferniza a vida das pessoas que habitam nas localidades mais próximas da empresa Fabrióleo.

Como lá foi dito, a empresa teve ordem de encerramento por parte das instituições fiscalizadoras e licenciadoras daquela actividade económica. Depois de muitos episódios rocambolescos, de coimas, de ameaças, de acções em tribunal, de lutas na rua e nas instituições, o povo sentiu a sua força para garantir os seus direitos, no caso o direito a viver onde escolheu.

O espanto é geral quanto à decisão do Tribunal ao permitir a laboração daquela empresa.

Não se trata só da qualidade de vida das pessoas, como se isso não fosse bastante, mas também do desenvolvimento de todo um concelho, da sua capacidade de atração para se viver e para se investir, são conhecidos alguns projetos que só não avançaram porque a poluição não o permitiu.

Mas voltemos às pessoas que é o que mais interessa e sim, temos de reconhecer a capacidade de sofrimento evidenciada, não é possível viver naquelas condições, ninguém tem o direito de obrigar outros a sofrer, de obrigar outros a uma verdadeira tortura, que é naquilo que se tornou a vida de algumas centenas de pessoas. Alguns não aguentaram mais e tiveram de sair das suas próprias casas, outros ameaçam fazê-lo, porque simplesmente querem viver e outros ainda não o poderão fazer porque os seus rendimentos não lhe permitem procurar outra habitação, estão mesmo condenados definitivamente à tortura.  

Chegámos ao caricato da situação, quem cumpre com a lei com as suas obrigações, é simplesmente condenado à deslocalização, quem não cumpre, quem interfere com a vida de outros pode prosseguir a sua actividade.

Os vários poderes do Estado, politico, económico, judicial, não podem fingir que não veêm, que não ouvem ou que não cheiram, ou sai a Fabrióleo, ou saem as pessoas.

António Gomes

Crónica publicada no “Jornal Torrejano”