Águas do Ribatejo - Relatório de Gestão e Contas de 2020
Águas do Ribatejo, E.I.M., S.A. - Relatório de Gestão e Contas de 2020
O documento apresentado contem informação detalhada e bem organizada, o que permite uma leitura fácil. Temos para análise um documento bem feito. O abastecimento de água e o saneamento é um dos sectores vitais para a autarquia. Neste sentido e como sempre aqui deixamos a nossa análise a este relatório.
A empresa apresenta um resultado líquido de 2 704 116 euros, mais 18.64% do que no ano anterior e manteve um nível de investimentos a merecer registo.
Como é referido no documento a água entrada no sistema subiu 5.15% e a água faturada subiu 2.99%.
A informação prestada sobre a captação de água deixa um aviso sério - o local de captação no Alvorão que alimentava o subsistema da Mata (Torres Novas) colapsou, tendo sido substituído pelo fornecimento da EPAL, ou seja mais um sinal do desaparecimento dos aquíferos.
O número de clientes para o abastecimento subiu ligeiramente 0.72% e o nº de clientes no saneamento subiu um pouco mais 1.92%
A qualidade da água continua alta, até subiu, o que é um dado relevante para a confiança no serviço prestado. É assinalada a dificuldade de acesso a alguns locais para recolha de água para análise devido à pandemia. No entanto existe uma informação que deve ser assinalada - trata-se de situações de acesso a casa de idosos que vivem isolados e mostram receio face às visitas da Águas do Ribatejo. Deve ser encontrada forma de estas visitas se realizarem com confiança.
Já quanto ao saneamento várias preocupações se levantam, a saber:
- das 51 ETAR, 15 não cumprem com a qualidade dos efluentes descarregados nas linhas de água, têm um nível de cumprimento inferior a 95%;
- a limpeza das fossas diminuiu em 2020, existem mesmo dois concelhos e uma freguesia onde não existe sequer cadastro das fossas, o que significa que não há controle sobre o que é despejado no meio ambiente;
- realizaram-se mais 213 ligações de ramais à rede o que comparado com o investimento realizado é muito pouco e muito preocupante;
- o tratamento de águas residuais situa-se nos 54% da capacidade instalada, o que é mau para as contas da empresa e é muito mau para o ambiente.
Quanto à relação de clientes de água versus clientes de saneamento a situação é grave: só no caso de Torres Novas existem 19 876 contratos de água para 13 186 contratos de saneamento, perto de 7 500 não têm acesso à rede de saneamento ou não fizeram a ligação. Ao investimento feito não correspondem as ligações ao sistema, significa que o objetivo de tratar as águas residuais não está a ser conseguido, deve merecer preocupação e análise por parte dos responsáveis da Águas do Ribatejo mas também dos/as autarcas.
Quanto ao objetivo de reduzir as perdas de água ele não está a ser conseguido, antes pelo contrário, subiram as perdas de água. A água não faturada subiu para 33.37% (em 2019 tinha sido 31.96%) Como se disse logo no inicio a água entrada no sistema subiu muito mais que a água faturada.
O número de roturas nos ramais e na rede está a crescer - 1572 em 2020 (1476 em 2019), também significa que existe maior número de interrupções no abastecimento, logo menor qualidade do serviço prestado.
A rede de abastecimento está a debilitar-se a olhos vistos, em 2019 havia 1 fuga de água por cada 6.3km e em 2020 essa distancia diminuiu para 5.3km.
Outras notas que nos merecem atenção: o consumo de água no setor não domestico caiu 12% o que pode ser visto como um sinal da retração da economia, foi compensado pelo consumo doméstico em 7%. A pandemia não deve ser alheia a esta realidade mas são dados que carecem de ser confirmados no ano seguinte.
O tarifário social em Torres Novas abrange 4.3% dos consumidores, 195 casos, dos 4468 totais, valores que continuam a não se entender.
A dívida dos clientes é enorme, aproxima-se dos 4 milhões de euros, não existe uma explicação para o grande número de clientes cujo abastecimento é cortado e não volta a ser ligado. O que é que lhe acontece?
A AR tinha como meta para 2020 o combate aos contratos de trabalho a termo, verifica-se que existem 14% de trabalhadores que não têm um vinculo permanente à empresa, quando esta apresenta uma grande estabilidade no número de trabalhadores/as e resultados financeiros muito positivos.
A Águas do Ribatejo esteve muito presente na comunicação social e em muitas situações pelos piores motivos, houve muita contestação à faturação cobrada, deveria haver o cuidado de explicar o que se passou ou o que se passa, ainda mais quando o relatório faz um relato da presença da empresa na comunicação social.
Torres Novas, 6 de Abril de 2021
Helena Pinto, vereadora do Bloco de Esquerda