É Dezembro e a aproximação das festas de Natal e de Novo Ano trazem mensagens de renovação, de coisa melhor, mais afortunada e plena.
Ansiamos por um ano de paz, amor, saúde, prosperidade, que nos transporte ao contraste dos anos anteriores, caracterizados pelos fogos intensos que assolaram todo o planeta, os náufragos do mediterrâneo que ainda provocam uma intolerável catástrofe humanitária, as mortes assassinas do racismo e do feminicídio, as experiências de receio, isolamento, atropelos aos direitos laborais, fragilidade no apoio à cultura, acesso à saúde, entre outros desequilíbrios que a pandemia nos veio revelar.
Nem tudo terá sido infortúnio, observámos o impacto da nossa presença humana, quando a natureza invadiu as praças e ruas desertas. Tivemos a oportunidade de aprender. Compreendemos o sentido da nossa impermanência. Principalmente, percebemos que estamos a viver uma profunda provocação para a mudança. Ou sim, ou sim. Porém, a mudança ocorre com a nossa cumplicidade e compreensão ou, ocorre em contra-mão, provocando a adversidade que temos estado a transitar.
Podemos condescender ou planificar. Afinal o que receamos mais? A inevitabilidade ou a oportunidade?
Nas políticas de proximidade, a sugestão da permanência de décadas tem provocado uma letargia comunitária que se revela na frágil participação na vida pública. Algum impulso mais audaz é absorvido pela estrutura dos órgãos predatórios, perdendo vitalidade. A debilidade da iniciativa institucional revela alheamento face a essa provocação democrática, quando observamos as grandes opções de um plano orçamental construído em copy/paste e adjetivações faraónicas, tudo muito robusto, tudo fantabulástico.
Mas é preciso transcender. É urgente um pacto de confiança para criar um novo lugar que nos afaste da vida enclausurada, auto-imune, sonolenta que autoriza toda a espécie de atropelos, desde os laborais até à invasão do espaço privado, numa sociedade do cansaço e vitamina, adiando o acordar.
Mas mudança exige uma confiança, não uma garantia.
Estaremos preparados?
Na antecâmara deste tempo novo, que seja agora.