As chaminés não caíram, as chaminés foram derrubadas.

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

É este caminho, uma “cultura de destruição” que se tem sobreposto aos interesses públicos e coletivos, este desprezo pelo legado dos que viveram antes de nós, este apego à ignorância, tudo isto define um futuro bacoco e medíocre para esta terra.

O empresário dono do Intermarché de Torres Novas foi à Assembleia Municipal tentar justificar a ação de derrube das chaminés, mas não justificou nada, nem se ouviu um pedido de desculpas aos torrejanos, nem o reconhecimento do erro, nem um sinal de arrependimento por ter ignorado a Câmara Municipal quando estava obrigado a isso.

O cidadão em causa leu um grande texto cheio de autoelogios, considera-se torrejano desde há 25 anos, com investimento feito, disse que foi agraciado com a redução de 94 000 euros nas taxas que deixou de pagar, mas que paga os impostos em Torres Novas (era melhor não pagar, já agora), cria postos de trabalho (neste particular esqueceu-se de dizer quanto paga aos trabalhadores e que tipo de contratos de trabalho pratica), limpou o terreno (pois, quem haveria de limpar?) … Esqueceu-se de dizer que o Estado, via CCDRLVT, suspendeu parcialmente o PDM para que possa fazer ali o seu investimento, situação muito excecional, pois só em situações raras é permitido tal procedimento num local como aquele (leito de cheia), ainda estamos para ver o que o futuro trará sobre a escolha do local, as alterações climáticas todos os dias nos dão recados, embora ninguém os ouça.

Tem alguma razão quando se queixa da Câmara no que diz respeito ao tempo de espera e ao tempo de decisão, os tempos do departamento de urbanismo desesperam qualquer um. Mas nada justifica a atitude tomada neste episódio das chaminés.

Mas, por estranho que pareça ou talvez não, o discurso “valeu a pena”, teve de imediato os seus efeitos – PS, PSD e MPNT ficaram convencidos, as justificações apresentadas foram suficientes para que não se perca mais tempo, é preciso é que a obra avance e que não se criem entraves ao seu desenvolvimento. Foi assim que reagiram os representantes eleitos. Nem uma palavra se ouviu a dizer que as chaminés têm de ser repostas, reconstruídas, não, qualquer coisa que assinale que em tempos existiram ali umas chaminés da época mais industrial do concelho serve. Será isto defender o interesse público?

É por estas e por outras que a ponte dos Pimentéis, em Lapas, desapareceu e apesar das promessas com mais de 30 anos continua no esquecimento;

Recentemente este executivo tapou, fez desaparecer deliberadamente o único porto de acesso ao rio Almonda em pleno centro histórico da cidade;

Na Meia Via, nos finais da década de 50 do século passado, a ermida de Nossa Senhora de Monserrate desapareceu para sempre, agora há quem chore lágrimas de crocodilo;

Há pouco mais de 5 décadas, bem no centro da cidade desapareceu a igreja de S. Maria do Castelo, ninguém lhe acudiu, era velha, já não prestava;

A linha do comboio dos finais do seculo XIX desapareceu e o edifício do Teatro Torrejano aconteceu o mesmo no final dos anos 1960.

Estes são exemplos recentes de ataques ao património construído e que caso tivessem sido defendidos e salvaguardados hoje esta terra seria diferente.

Muitos outros casos existem de destruição patrimonial, não tenho nem conhecimento nem formação para falar sobre eles, mas Torres Novas tem pessoas capazes para isso.

É este caminho, uma “cultura de destruição” que se tem sobreposto aos interesses públicos e coletivos, este desprezo pelo legado dos que viveram antes de nós, este apego à ignorância, tudo isto define um futuro bacoco e medíocre para esta terra.

É esta atitude que vai prevalecer no caso das chaminés, é a elite que governa e tem governado os destinos do concelho que assim o determina.

Crónica publicada no "Jornal Torrejano"