Concelhia do BE /Torres Novas e autarca na Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de S. Pedro, Lapas e Ribeira
De pequenina, aluna do jardim-de-infância, soube o que era almoçar na escola, partilhar a refeição com os amigos, aprender a estar à mesa e descobrir novos sabores, visitar a cozinha e em dias festivos provar petiscos feitos por nós. Na minha altura, a escola primária não fornecia almoços mas quando fui para o ciclo lá estava o grande refeitório à nossa espera. Recordo as cozinheiras e ajudantes sempre muito atarefadas, preocupadas entre preparar e servir as refeições e que comêssemos o necessário evitando o desperdício. A alimentação era equilibrada e tinha também o seu valor social. Surpreende-me pois que anos mais tarde se tenha desvalorizado o papel do refeitório e principalmente da cozinha dentro da comunidade escolar. Começaram a chegar os serviços de catering, quase sempre com qualidade duvidosa, até porque com poucos ovos não é possível fazer muitas omeletes. Começando logo pelos funcionários, pagos muito abaixo do que seria justo, fomentando a precariedade e num total desrespeito por quem assegura a grande responsabilidade de alimentar crianças e jovens, depois porque o tempo destinado aos almoços não contempla os objetivos educativos, de convívio e partilha que uma refeição também deve ter e por fim porque a procura do baixo custo se sobrepõe à das boas práticas. Entretanto vemos serem construídos centros escolares com grandes e apetrechadas cozinhas mas a elaboração dos almoços continua a ser atribuída a uma empresa que agora a câmara vai multar por incumprimento do cadernos de encargos, nomeadamente no controlo da qualidade alimentar. Parece-me já haver argumentos suficientes para que se regresse à confeção dos alimentos nas escolas. Aqui deixo mais alguns: a possibilidade de recorrer aos produtores locais numa perspetiva de desenvolvimento económico e sustentabilidade ambiental e o interesse pedagógico e social. Que se acabe com a prática de que comida que sobra vai para o lixo, mesmo com famílias e alunos a passar fome em casa.
Crónica emitida à 2.ª feira, quinzenalmente, na Torres Novas FM