Fabrióleo encerrada?

Ambientalista, autarca

Fez 4 anos esta quarta-feira dia 16 de Setembro, que a população Torrejana saiu à rua pela primeira vez, insurgindo-se contra a poluição na Ribeira da Boa Água

Voltaremos a ter boa água no inverno na Ribeira da Boa Água? Sim, se algumas coisas forem feitas, tal com a limpeza do seu leito antes de chover.

Fez 4 anos esta quarta-feira dia 16 de Setembro, que a população Torrejana saiu à rua pela primeira vez, insurgindo-se contra a poluição na Ribeira da Boa Água, provocada segundo as autoridades, pela Fabrióleo, tendo a chamada (ajuntamento popular) sido feita pelo recém criado movimento BASTA! (de crimes ambientais).

Passados 4 anos, o que mudou? O que se fez?

Para os mais desatentos, muita coisa se fez nestes 4 anos, fizeram-se duas manifestações, fez-se a “Recomendação do Nicho” aprovada numa das manifestações, fez-se uma Petição com 5700 assinaturas que nos fez ir duas vezes à Assembleia da República, a primeira vez para entregar a Petição e em que fomos recebidos por um dos vice-Presidentes da Assembleia da República, o Deputado Jorge Lacão que nos recebeu durante duas horas,  e a segunda vez foi quando a Petição baixou ao Plenário da AR e onde por unanimidade foi feita uma recomendação ao governo para a despoluição urgente da Ribeira da Boa Água e Rio Almonda.

Fez-se também o “BASTA ao vivo”, que foi um evento durante o dia todo, com canoas no rio Almonda pela manhã para quem quisesse, performances artísticas e Dj´s no Jardim das Rosas, acabando com uma noite de música na Praça 5 de Outubro com artistas locais, todos dizendo BASTA!  Fez-se também uma marcha lenta num dia de S. Martinho entre o Nicho e a entrada de Riachos.

Convidamos todos os deputados da AR eleitos pelo distrito de Santarém a virem visitar os terrenos à volta da fábrica, e vieram, tal como também convidamos para visitar o mesmo local, a Comissão parlamentar do Ambiente e que também vieram. Trouxemos as TV´s, chegou aos telejornais, ao Sexta às 9.  Juntamo-nos ao proTEJO-movimento pelo Tejo (e seus afluentes), reunimos com o atual ministro do Ambiente e da Ação Climática e com a APA. 

Tudo isto foi feito por um movimento de cidadãos, sendo que alguns desses cidadãos foram acusados de Difamação pela fabrióleo e ainda tiveram de andar envolvidos em processos pelos tribunais, sendo eu um deles, como sabem, tal como o Sr. Gameiro, havendo mais uns poucos ainda à espera de julgamento.

Neste período de tempo foi votada por unanimidade (duas vezes) no nosso município a não entrega da DIM-Declaração de Interesse Municipal à Fabrióleo. Vários processos correram em tribunais, até que veio o acórdão do Tribunal que ordena o encerramento da Fábrica.

O que significa isso? Encerramento?

Encerramento da Fabrióleo e a sua limpeza satisfatória é o que vem escrito no acórdão…

Nas notícias que vamos tendo e pelo que vemos com os nossos olhos e cheiramos com os nossos narizes, parece que a fábrica não está mesmo a produzir, basta ver que desde que a Fabrióleo encerrou as Ribeira do Serradinho e a Ribeira da Boa Água estão secas, como deveriam estar sempre nesta altura do verão, portanto não há dúvidas algumas de quem poluía as ribeiras, como parece que muita coisa como mobílias e maquinarias tem chegado a Vendas Novas, alguma limpeza anda a ser feita, falta ainda a limpeza do leito das Ribeiras, analisar aqueles terrenos da fábrica e dos parques dos camiões (Copalcis), e também falta repor a legalidade urbanística, pois é bom não nos esquecermos que uma parte da fábrica e a ETARI foram embargadas, pois desrespeitavam o PDM, e esse embargo não foi respeitado pela Fabrióleo.

O que me preocupa mais agora são as notícias das águas ácidas (com PH muito baixo) que têm vindo de Vendas Novas, da Extra Oils, desde que eles deram cabo da ETAR de Bombel. As notícias são de que eles estão a armazenar em terrenos deles no Carreiro da Areia essas águas ácidas em vários “depósitos”, lagoas, etc, esperando que chova para lhes dar o destino que julgo todos sabermos qual. A população tem visto camiões a entrar na fábrica, têm sido vistos alguns funcionários a entrar na fábrica antes das 08h, é feito quase tudo às claras e não se passa nada, isto é surreal.  Apesar da fábrica não estar a produzir, ultimamente a população do Carreiro da Areia tem sofrido bastante com os maus cheiros provocados por essas águas ácidas armazenadas.

O que são essas águas ácidas? A matéria prima deles são as massas de refinação de óleos que adquirem em várias empresas, como a SOVENA e a PRIO e até duma empresa aqui do concelho, essas massas são aquecidas e misturadas em ácidos sulfúricos, é isto que provoca a poluição atmosférica que se vê sair daquelas chaminés, mas dessa mistura das massas com ácido sulfúrico, dessa mistura só se aproveita cerca de 50%, sendo esses 50% as Oleínas que depois são exportadas, os restantes cerca de 50% são as tais águas ácidas que são muito difíceis de tratar, devido também ao custo que tem de se ter com reagentes e produtos químicos para as tratar.  Aqui, quanto a mim, é onde está o foco da questão, ao longo destes anos essas águas ácidas têm sido tratadas? Têm ido para onde? Os locais onde estão armazenadas são seguros? Tudo isto tem de ter respostas, e sinceramente estou muito desiludido com a forma como este assunto tem sido tratado por todas as autoridades intervenientes, principalmente o executivo camarário, pois os munícipes merecem respeito, principalmente os que vivem em Carreiro da Areia, nunca foi tomada uma postura de ir informando os munícipes do que se está a passar e do que vai ser feito e do porquê não se estar a fazer mais, há muita pergunta à espera de resposta…

A população precisa de saber o que está enterrado nos terrenos deles e qual o perigo efetivo disso.

 A população precisa de saber quando é reposta a legalidade urbanística do local onde está implementada a Fabrióleo.

A população precisa de saber se algo está a ser feito no sentido de ser a Fabrióleo a pagar a limpeza do leito das Ribeira do Serradinho e da Ribeira da Boa Água e também porque é que essa limpeza não começou já, estarão também à espera que chova???

Agora é que BASTA mesmo

 Pedro Triguinho (Movimento BASTA)

Artigo publicado no jornal "O Almonda"