O mundo ao contrário

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

O capitalismo ao mesmo tempo que explora os imigrantes (...) apoia e apoia-se nos partidos políticos defensores do racismo e da xenofobia, o capitalismo precisa dos imigrantes, mas também precisa de os manter subjugados e controlados e isolados dos outros trabalhadores

A agenda política é constantemente marcada pelo tema da Imigração e é assim propositadamente e sempre pela negativa.

Foi notícia que aqui ao lado, em Múrcia – Espanha, grupos de extrema-direita perseguem e violentam imigrantes, é a caça ao imigrante… Onde chegámos?

Sabemos, todos, que os imigrantes são fundamentais na economia, sem eles estávamos todos pior, sem os imigrantes boa parte das prateleiras dos supermercados estavam vazias, as filas formavam-se e os preços disparavam.

Sabemos, todos, que os imigrantes são essenciais na construção civil, sem eles a crise da habitação era bem mais profunda. Sabemos, todos, que os imigrantes são preciosos no turismo, são indispensáveis nos espaços de apoio aos idosos, ou simplesmente na limpeza das casas, dos escritórios, das empresas. É assim e todos e todas sabem que é assim.

Mas muitos alimentam outra narrativa, a de que não fazem falta nenhuma e a de que são responsáveis por uma suposta onda de criminalidade… Quando escrevo esta crónica, hoje, 14 julho, a manchete do Diário de Noticias titula  - Criminalidade caiu 1,3%, mas capas de jornais com crimes aumentaram 130%. Alguma coisa não bate certo. Por outro lado, as redes sociais são o principal terreno fértil para a mentira e para a promoção do ódio.

O capitalismo ao mesmo tempo que explora os imigrantes (salários baixos e condições miseráveis de vida) apoia e apoia-se nos partidos políticos defensores do racismo e da xenofobia, o capitalismo precisa dos imigrantes, mas também precisa de os manter subjugados e controlados e isolados dos outros trabalhadores, esse é o trabalho dos neofascistas, dos populistas dos que espalham o medo para ver se conseguem chegar ao poder.

A agenda política do partido Chega é agora partilhada pelo governo da AD, quem diria…

Há vozes que se levantam, incluindo na direita, contra esta onda antidemocrática e anti direitos humanos, mas precisamos de mais, de mais gente sem medo que sabe que o caminho iniciado no 25 de abril de 1974 não pode ter pausas, é para continuar sem interrupções.

Por agora o mundo caminha ao contrário.

Crónica de opinião publicada no 'Jornal Torrejano'