Como a maioria dos jovens da minha idade, eu, apesar de sempre adorar o espírito do 25 de Abril, nunca assisti ao vivo a qualquer cerimónia. Talvez por atualmente não haver uma cultura política forte na população do nosso país, talvez porque onde morava não haver grande incentivo político-partidário numa cerimónia de Abril com o seu povo, talvez por mera preguiça. A verdade é que este ano eu não poderia faltar. Cinquenta anos não são cinquenta dias!
E aí fui eu, junto dos meus camaradas, festejar a Liberdade. E que bem que fiz! Foi uma bonita cerimónia, com bons discursos no geral (alguns talvez demasiado “claustrofobicamente” longos) mas o do nosso António Gomes sacou-me uma gota de água ali no lado direito do canto do olho: falou o que havia para falar, sem papas na língua, com a sua clareza habitual, deixando a informação que transmite chegar ao cérebro para que possa ser assimilada. Poderão ver o discurso neste URL: https://www.facebook.com/Bloco.TorresNovas/videos/683186117202645/ .
O desfile (chamaram de “Arruada”?) foi bom, ter visto várias forças políticas, visões diferentes a partilharem do mesmo ideal: a democracia. A adesão foi boa, com velhos e novos, mas desejaria que houvesse uma maior participação, particularmente da malta mais nova. Já em Lisboa, pareceu ter sido incrível. É emocionante ver que, apesar do país aparentar estar dividido politicamente, há uma coisa que nos une a todos: a luta pela liberdade.
Porque este dia não foi sobre glorificações ou guerras partidárias, ou se a esquerda é melhor que a direita. Foi um dia dos portugueses. De relembrá-los que faz 50 anos que somos livres.
É que as pessoas da minha geração em diante (na sua maioria, claro) habituaram-se a que tudo fosse garantido: poder viajar à vontade, ter comida na mesa, educação, saúde acessível, liberdade de expressão, e por aí fora. Esquecem-se que isto deu muito trabalho, e que esse trabalho começou há 50 anos atrás.
Há 50 anos atrás as mulheres tinham que ficar em casa. Havia muito pouco mercado de trabalho para elas e poucas chegavam à Universidade; assim, seriam donas de casa toda a vida, dependentes do esposo com que calhassem. Há 50 anos, não poder-se-ia falar em liberdade, nem em democracia, nem debater ideias, pois as ideias que contavam, eram as do próprio governo. Também não poderia haver divórcios como hoje. Era preferível e recomendável a mulher não se separar do marido, e se este a maltratasse, não tinha o direito de se queixar. Na verdade, nem de abrir as cartas que lhe eram dirigidas, pois o esposo já o teria feito antes. A música era censurada, os livros censurados, os jornais, toda a informação, cultura e arte era moldada para o gosto e escolha do Governo. Havia uma polícia que monitorizava tudo isso, e até cidadãos que clandestinamente lhes informavam se vissem algo suspeito, mesmo que não fosse verdade. Já para não falar na homossexualidade, que era “tratada” como se fosse uma doença mental. Um “tratamento à lá PIDE”, digamos.
É contra este tipo de situações, pela luta de igualdade de direitos, pela liberdade de expressão, pelo respeito do género e sexualidade de cada um, pelo direito a uma saúde e educação acessíveis, para que possamos conhecer o país e mundo sem sermos vigiados e interrogados constantemente, pela LIBERDADE, caramba! É por isto que se celebra o 25 de Abril.
Quando naquela manhã, no fim da sessão solene, contra o que estava previsto, o povo começa a cantar “Grândola” (obrigado Helena!), e toda a gente que ali estava cantou em uníssono até ao fim, senti um arrepio dos pés à cabeça: saberia que este dia teria que ser marcante.
25 de Abril SEMPRE! Fascismo, nunca mais!