O Plano Diretor Municipal (PDM) está em discussão pública, são 40 dias para ler, analisar, debater, tomar posição e preparar a decisão final sobre este extenso, complexo e tecnicamente exigente documento, com milhares de páginas e plantas, e desenhos e pareceres. O que demorou mais de 20 anos a ver a luz do dia e feito por especialistas e políticos a tempo inteiro, agora o povo e os decisores políticos da Assembleia Municipal têm 40 dias para se expressar.
Vamos a isso. Duas ou três notas que o espaço não dá para mais.
O concelho de Torres Novas está em declínio acentuado de população, as previsões para o próximo decénio não são nada animadoras, vamos continuar a perder população, nascemos menos do que no século passado e muitos dos que nascem quando chega a idade da autonomia vão para outras paragens, não temos capacidade de retenção de jovens e muito menos de atração. Valha-nos os imigrantes.
Temos vários milhares de casas vazias, 17%, umas em ruínas, outras degradadas e ainda outras simplesmente fora do mercado de arrendamento, uma calamidade digo eu.
Temos loteamentos aprovados, com infraestruturas construídas a degradarem-se a olhos vistos, que dão para construir milhares de fogos, “mais meia cidade” nas palavras do vereador do urbanismo.
A proposta agora em debate aumenta o solo urbano não industrial em 23%, quase mais um quarto do que temos agora. Alguém me explica esta política apresentada pelo PS de Torres Novas? O que é isto? O que querem fazer deste território? Que interesses se movem? Faço votos para que o debate permita esclarecer todas estas opções.
E a estratégia para o concelho? O que queremos ser daqui a 20 anos, que futuro preparamos agora para as gerações seguintes? O documento apresentado não é claro, não apresenta um objetivo estratégico que mobilize as populações e os sujeitos ativos. Mas vai falando de logística, de implantação de empresas deste sector, principalmente no eixo Zibreira, Torres Novas, Riachos.
Atualmente já é a logística que lidera a economia local, será que esse é o caminho? Não estou convencido disso, primeiro porque não tem capacidade de fixar jovens qualificados, os salários são, regra geral baixos. Segundo porque vai fazer disparar o trânsito pesado com todas as consequências que dai advém: menos qualidade de vida, mais poluição sonora, visual e ambiental e terceiro, mas não menos importante, porque impede outros setores industriais de criação de valor e de emprego qualificado de se fixarem aqui.
A importância do combate às alterações climáticas, como principal preocupação de quem tem que decidir as opções sobre o ordenamento do território, não me parece que tenha sido percebida. Preocupa-me que não seja assumido a necessidade de reduzir o espaço florestal ocupado por eucalipto e pinheiro, desde logo pelo perigo de fogos florestais. Veja-se o exemplo da freguesia de Meia Via que se encontra parcialmente cercada por espaços florestais de produção.
Lamento que o nosso património natural - rio Almonda e Serra D’Aire, não seja tratado como a mais valia diferenciadora que é. No documento apresentado não está enquadrado como estratégico e isso faria toda a diferença. Como exemplo é a permissão para a implantação de campos de treino de caça e de tiro em pleno PNSAC. Termino como comecei: o tempo escasseia mas não podemos deixar que o debate de um documento tão importante nos passe ao lado.
Crónica de opinião publicada no 'Jornal Torrejano'