Há uma semana se me perguntassem o que pensaria escrever quando tivesse tempo para tal, iria dizer que provavelmente já existiria um governo de Esquerda em França colocando a Extrema Direita no seu devido lugar, e que a eleição do Partido Labour em Inglaterra trouxe novas esperanças.
Mas infelizmente não é assim. Estamos em Portugal onde quem reina agora é a Direita.
Nestes mais de 100 dias de governação já observámos o tipo de políticas que nos reservam para os tempos vindouros: baixa no IRC (sendo as grandes empresas as principais beneficiadas) e o chamado “IRS Jovem” que favorece os jovens que usufruem de melhores salários em detrimento dos que ganham menos.
Outro problema bastante grave é o trabalho que a Ministra da Saúde tem feito, que é zero. As urgências, serviços de pediatria e obstetrícia continuam fechados rotativamente, além de se recorrer cada vez mais a parcerias com privados, gastando mais dinheiro público, oferecendo-o de bandeja ao setor privado. A solução passa por uma revisão nas carreiras médicas e de enfermagem, de forma a torná-las mais atrativas para os profissionais.
Recentemente chegou outro problema ainda mais grave, que demonstra bem o quanta tirania pode conter uma governação à Direita. Da Região Autónoma dos Açores veio uma notícia que me chocou pessoalmente: foi aprovado pelo PSD e Chega uma medida que discrimina a entrada de filhos de pais desempregados para o acesso gratuito às creches, atirando-os para o fim da lista. Nunca pensei ver uma medida destas ser apresentada, quanto mais que fosse aprovada. É absolutamente inadmissível, além de, na minha opinião, tudo indicar que é inconstitucional.
A Constituição é clara: Art 73º, “1. Todos têm direito à educação e à cultura.” Continua no ponto seguinte: “2. O Estado promove a democratização da educação (…) contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais (…)”. E eu não creio que esta medida esteja de acordo com a letra da Constituição.
Caro(a) leitor(a), ainda estamos no começo da conversa sobre o Orçamento de Estado e a coisa já está assim. São estes os perigos que advertimos constantemente sobre a Direita estar no poder. Só nos resta continuar a lutar, e a mostrar e demonstrar, que não é assim que se governa. Nós, o povo trabalhador e contribuinte, não somos Euros, nem números: somos pessoas.