Discurso de Diogo Gomes na Sessão Solene dos 51 anos do 25 de Abril de 1974

Senhor Presidente da Câmara Municipal
Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Autarcas Presentes
Autoridades e instituições presentes
Caras e caros munícipes,
Recordam-se daquele dia? Aquele dia em que a esperança renasceu, em que a liberdade se fez ouvir nas ruas, em que Portugal se despiu da mortalha da ditadura?
Eu não, apenas vivi no pós 25 de Abril e sei que não foi nem é apenas um dia nos livros de História, foi um pavio que incendiou a alma de um povo, um rastilho que continua a arder.
Durante décadas cidadãs e cidadãos, foram silenciados, oprimidos, explorados, tratados como se fossem de segunda. A censura toldava as mentes, a guerra ceifava os jovens, e um regime autoritário negava os direitos mais básicos.
Foi o Fascismo em Portugal.
Mas a semente da liberdade nunca morreu.
E, num dia que ficará para sempre gravado na memória coletiva, o povo português seguiu os capitães de abril e disse: basta!
Em 1975, um ano após a Revolução dos Cravos, deu-se um passo gigante rumo à construção de um Portugal verdadeiramente democrático: foi eleita a assembleia constituinte.
Foi nesse momento crucial da nossa História, que se consagrou o voto universal, sem exceções.
Pela primeira vez, todas as mulheres puderam votar, exercendo o seu direito de escolher o rumo do país.
Imaginemos aquele grupo de homens e mulheres tão diferentes entre si que construíram e votaram a Constituição da República que garantisse direitos e liberdades para todo o povo. Só um partido votaria contra - o CDS.
Permitam-me que preste homenagem àqueles e àquela que sendo desta terra contribuíram para esta fase tão importante da nossa história: Pedro Natal da Luz, Hilário Teixeira, António Canelas e Carmelinda Pereira eleitos Deputados Constituintes.
Mas a democracia não é um presente que recebemos passivamente, é uma conquista que temos de defender todos os dias. E hoje mais do que nunca, a temos de defender.
Olhemos à nossa volta, o Genocidio do povo palestiniano continua, a guerra na Ucrânia não para, há quem queira reescrever a História, branquear a ditadura, minimizar o sofrimento daqueles e daquelas que lutaram pela liberdade. A extrema-direita, qual erva daninha, cresce e espalha o seu veneno, alimenta o ódio e a intolerância. Disfarçam-se de defensores da família, para atacar os direitos da comunidade LGBT, ou banir a palavra mulher. Levantam a bandeira da segurança, para perseguir os imigrantes. Invocam a liberdade de expressão, para espalhar ódio e a desinformação.
A desinformação, as notícias falsas são hoje uma ameaça real à democracia.
Não nos iludamos. O fascismo não é uma relíquia do passado, é uma ameaça presente e real. E a melhor forma de combater é defender os valores de Abril, lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos e todas tenham a oportunidade de realizar os seus sonhos.
Mas ainda há sonhos que ficam por terra.
Eu como a maioria dos jovens quero um trabalho digno, com direitos, com salário que chegue ao fim do mês.
Eu quero uma casa que possa pagar, tenho esse direito.
Eu quero um ensino para todas e todos, que não exclua ninguém por motivos financeiros.
Eu quero justiça na divisão da riqueza que os trabalhadores produzem.
Eu quero que os ricos também paguem impostos.
Eu quero tempo livre para viver a vida.
Eu quero um portugal livre e tolerante que saiba acolher aqueles e aquelas que nos procuram, que fogem da guerra e da fome e que aqui neste pais criam riqueza para todos nós, que nos ajudam com o seu trabalho, os seus impostos e os seus afetos.
Nós queremos a liberdade toda, agora!
Para isso não podemos permitir que a frustração nos consuma!
A nossa energia, a nossa criatividade, a nossa visão são essenciais para construirmos um país melhor.
Não nos podemos deixar paralisar pelo medo ou pela descrença.
A inspiração vem dos capitães de abril, lembro aqui Carlos Matos Gomes recentemente falecido.
Acreditemos no nosso potencial, unamo-nos, vamos fazer-nos ouvir!
O futuro está nas nossas mãos e, juntos, podemos transformar a nossa terra num lugar mais justo.
Por isso, digo-vos: não se conformem, não se calem, não desistam! Ousem sonhar, ousem lutar, ousem transformar o mundo!
Se a vossa voz não é ouvida nas instituições, façam-se ouvir nas ruas. Se o fascismo se levantar, derrubemo-lo!
A democracia não é um sistema perfeito, mas é o melhor sistema que temos, e só funciona se todos e todas participarmos, se nos envolvermos, se defendermos os nossos direitos e liberdades.
No próximo dia 18 de maio vamos ser chamados a votar.
Comecemos aí mesmo a fazer ouvir a nossa voz, Não deixemos que decidam por nós.
Estas eleições são sobre escolher entre quem defende os direitos do povo e quem serve os interesses de uma elite que nunca aceitou perder o poder.
Seguem-se as eleições autárquicas. O poder local pode ser a primeira linha de defesa da nossa democracia. Assim queiram os e as autarcas que vamos eleger.
Também aqui nas autárquicas podemos construir comunidade, também se decide o acesso à habitação digna, aos transportes públicos eficientes e gratuitos, a uma educação de qualidade, a cuidados de saúde acessíveis e a uma cultura vibrante que enriqueça as nossas vidas.
Torres Novas, terra de gente trabalhadora, corajosa e lutadora, não pode ficar indiferente a este momento crucial da nossa história. Juntos e Juntas podemos construir um futuro de liberdade, igualdade e justiça social.
O 25 de abril não foi uma flor que murcha, foi um punho erguido.
E hoje, esse punho tem de ser nosso!
25 de abril sempre, fascismo nunca mais.
Diogo Gomes