O 25 de Abril visto por um ausente atento

Reformado, activista ambiental

...o que mais me desagradava era dizerem-me que eu vinha de um pais fascista e colonialista...

Emigrei em 1972 e quando me comecei a relacionar com alemães o que mais me desagradava era dizerem-me que eu vinha de um pais fascista e colonialista, era uma realidade com a qual tinha que conviver, naquele tempo a história do nazismo na Alemanha ainda estava bem viva, e isso por vezes servia-me de moeda troca.

Quanto a colonialismos remetia-os para a última metade do século 19, onde as ambições alemãs também ficaram bem patentes através da conferência de Berlim, ou daquela proposta do chamado ultimatum inglês, onde os alemães tambem pertendiam tirar dividendos, ligando os Camarões à Namíbia onde já estavam, ocupando Angola que ao tempo era ocupada pelos Portugueses.

Agora falando de Abril, hoje há muita gente que não sabe ou não quer saber o que isso foi, e então para esses, os que arriscaram a vida nessa data, são a "brigada do reumático" ou os velhos de Abril, mas esses velhos foram os que devolveram a dignidade aos Portugueses, e que permitiram que as novas gerações se possam pavonear nas instâncias internacionais representando Portugal, onde antes os Portugueses eram simplesmete apupados ou viam as salas vazias quando se dirigiam ao auditório, o Dr. Rui Patricio, ministro dos estrangeiros da altura, saberia bem do que estou a falar se ainda estivesse entre nós.

Agora falemos então da guerra colonial onde o regime de então não aprendeu nada com a história e seguiu a política do “orgulhosamente só”, até aparecerem acontecimentos como os de Wiriyamu e outras desgraças, assim como a morte de setenta mil portugueses, números nunca contabilizados na altura, mas para o regime de então também isso não interessava, porque para eles os mortos somam-se aos mortos, e os lucros somam-se aos lucros.

Digamos que a guerra colonial deu origem ao maior surto de emigração para França, surto esse sem precedentes, que absorveu tudo o que o que era de bom e de mau que sobrou dessa guerra colonial. E os que não foram para a França ficaram por cá a sofrer os traumas que essa guerra lhes provocou, alguns deles alvos das maiores injustiças, que os sucessivos governos nunca reconheceram.

Tudo isto sem falar na sociedade portuguesa dos anos sessenta, quando nós eramos alvos de xacota de toda a Europa Ocidental pelos níveis de pobreza e analfabetismo em que viviamos, hoje os portugueses passeiam pelo mundo, temos níveis de frequência universitária dos melhores, professores universitários e investigadores nas melhores universidades da Europa e do Mundo, e mesmo assim ainda há quem ponha os valores de Abril em causa, esses são os velhos do Restelo, que não podem ser comparados com esses a quem eles chamam "brigada do reumático" que fez o 25 de Abril.

O oportunismo bacoco e reacionário é de tal tal ordem que agora nem querem que a data do 25 de Abril se comemore na  Assembleia da República, embora que com actividades reduzidas como aliás  todas as outras no País, mesmo no fim de o próprio Parlamento ter votado por larga maioria a realização das mesmas.

Para terminar temos que estar vigilantes porque o populismo não perdoa. Cumprimentos para todo o do Bloco de Esquerda e Viva o 25 de Abril.

Viva o 25 de Abril e todos quantos nele se empenharam.

António Gameiro