Ó Mãããe! (E@D)*

Professora, pintora, autarca do BE na Câmara Municipal de Torres Novas

"Eu, mãe de dois filhos pequenos, trabalhadora, desisti do ensino à distância"

*Ensino à Distância

Encontrei a C e conversámos um pouco debaixo do sol. Ela depois do treino a descer a ladeira e eu a subir a ladeira sem treino nenhum. Com a distância conveniente, falámos do miúdo, a fazer uma 3ª classe à distância, em estado de frenesim quando colocado à frente do computador, dos trabalhos solicitados e desta condição de isolamento social. Era o dia das mães.

Entretanto tinha trocado mensagens com a M sobre a publicação na Visão "Eu, mãe de dois filhos pequenos, trabalhadora, desisti do ensino à distância". Falava da adaptação às aulas virtuais dos filhos, o teletrabalho, a constatação da incapacidade de cumprir as tarefas solicitadas pela escola, até à decisão de assumir o destino e o formato do tempo. Desistindo.

Comparámos com a repercussão deste desabafo, com a partilha do artigo no FB, por uma atriz brasileira e, com os comentários que originou. Mães em desespero de causa pela pressão, social e auto-imposta, de serem irrepreensíveis no cumprimento do que se espera delas, a par do bálsamo por verificarem que alguém assumiu a sua própria vulnerabilidade. A possibilidade de não terem de ser “excelentes”, face às construções criadas, refletem o alívio nos, cerca de 10 mil, comentários. Daniela, Adriana, Taís, tudo mães, nenhum pai. Aos desabafos junta-se o reconhecimento pelo trabalho dos professores e professoras, constatando ainda a sobreprodução tecnocrática da Escola. Não é coisa de ignorar.

Estes acontecimentos sugerem uma série de leituras a incluir no debate sobre o desígnio da Educação do séc XXI, não apenas à luz das diferenças de género, classe, raça ou etnia, também apontam à meritocracia institucionalizada reproduzida na perseguição acrítica do mérito, excelência e sucesso, banalizando os significados.

Se é importante a autodeterminação, igualmente importante é participar para uma educação que responda a todos/as e, o curioso, é que até sabemos como criar essa escola que é inclusiva, significativa, investigativa, apaixonante. Nada disso acontecerá se continuarmos a administrar placebos para os sintomas distópicos da organização escolar. Desistir não é a opção.

*Ensino à Distância