O Tempo do Rio
Como no poema O rio do tempo de Eduardo Bento, podemos provocar o exercício de pensar de jusante a montante sobre o Rio Almonda, como estratégia de valorização de um património natural relevante, que permitiria adquirir e revitalizar hábitos de fruição das margens e percursos, assegurar a sua proteção, desenvolver atividades de aventura, desporto e lazer e assim proporcionar novas leituras sobre Torres Novas.
Quando nos referimos ao rio que emoldura a cidade e o concelho de Torres Novas, surge de imediato o reparo à poluição, à necessidade de limpeza das margens e do leito, à proteção da fauna e flora e a tantas outras preocupações que configuram as conversas informais e as referências institucionais. Também verificamos que são escassos os exemplos que colocam o Rio Almonda na agenda das iniciativas políticas.
Na verdade, sendo um dos mais importantes símbolos de Torres Novas, merece um olhar aprofundado, principalmente quando é constantemente afetado por descargas e focos de poluição agressiva.
Os anos entre 2016-2018 testemunharam importantes iniciativas cidadãs na defesa do rio que devem ser consideradas, revelando uma população atenta e atuante. O exemplo da Ribeira da Boa Água, que veio identificar a Fabrióleo como empresa poluente levou o IAPMEI a determinar o seu encerramento por efectuar descargas de elevada toxicidade para as linhas de água. O Bloco de Esquerda continua a levantar o problema na Câmara Municipal para que esta questão não caia no esquecimento enquanto se aguarda a decisão do tribunal.
Também por iniciativa de associações e projetos de origem cidadã, o Rio Almonda vai serpenteando formas de agregar sinergias determinantes que contribuem para a sua defesa.
Mas será tudo isto suficiente?
No seu manifesto programático de 2017, o Bloco de Esquerda refere o rio Almonda como elemento de crucial importância ambiental e patrimonial da cidade e do concelho, adiantando propostas que vão no sentido da sua valorização: (…) uma primeira fase de classificação como área de paisagem protegida de interesse regional e local, das margens do Almonda e uma segunda fase até à nascente. Sendo que esta classificação se inscreve como instrumento fundamental para, de uma vez por todas, dar-se início a um verdadeiro processo de salvaguarda e valorização ambiental do Rio Almonda.
Um Rio valorizado, com dinâmicas próprias de fruição paisagística, cultural, desportiva e educacional, permitiria inibir qualquer atividade poluente ou desmazelo. Em jeito de navegação, poderia avançar-se com uma iniciativa que tanto temos desejado, como o passadiço com referências interpretativas, que acompanhe as margens do Rio Almonda. Uma estratégia de verdadeira aproximação à vivência e usufruto natural deste recurso, com impactos significativos na economia local e demais iniciativas da cultura à educação e ao desporto, além da resultante promoção turística mas, essencialmente, seria determinante na proteção ambiental do Rio Almonda.
O rio do tempo
Como serpente
Mordendo a própria cauda
Desagua na nascente
(O Rio do Tempo, in O nevoeiro dos dias de Eduardo Bento, 2009)
Graça Martins
Vereadora do Bloco de Esquerda de Torres Novas