Os impostos, por cá

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

"A esmagadora maioria dos trabalhadores com salários baixos irão receber um valor ridículo no final do ano, os de maiores rendimentos receberão um valor com algum significado. (...) Esta é a política fiscal à moda do Iniciativa Liberal."

Os órgãos autárquicos (Câmara e Assembleia) aprovaram os impostos municipais para o ano de 2026. Falamos do IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), derrama (a aplicar às empresas) e a devolução ou não do IRS até 5%.

As decisões sobre os impostos devem partir de alguns pressupostos para que a decisão final seja o mais justa possível para os cidadãos e cidadãs e para o equilíbrio das contas camarárias, ou seja há investimentos a fazer e a isso também se chama redistribuição do valor cobrado através dos impostos.

Nos últimos anos tem-se verificado um aumento dos valores cobrados. A receita fiscal tem subido significativamente, vejamos: IUC (Imposto Único de Circulação) – subida de 12,5%, Derrama quase 17% no ano de 2024; IRS 9% em 2022 (último ano de contas finalizadas); IMI mesmo descendo a taxa aplicada para 0.36, nos últimos anos tem vindo a subir em termos absolutos é a principal fonte de receita fiscal municipal.

Mas o mais significativo e que importa aqui referenciar é a cobrança do IMT – Imposto Municipal sobre as Transações, o Município já arrecadou este ano, até setembro, mais 2 milhões de euros do que o previsto e mais 1 milhão e 700 mil que em 2024, ou seja esta receita vai duplicar, é uma boa noticia para os cofres da autarquia.

Face a este quadro havia todas as condições para atender aos munícipes e baixar de forma significativa o IMI. O PS não entendeu assim e juntamente com o Chega baixou a taxa de 0,36 para o valor de 0.34% do valor patrimonial do imóvel. Isto significa em termos absolutos que a previsão de receita arrecadada baixa cerca de 280 mil euros, muito aquém do que era possível e desejável para uma política de justiça fiscal.

Mas vamos ao IRS, é um imposto progressivo, ou seja, quem ganha mais paga mais e é cobrado na fonte pelo Estado central que entrega às autarquias 5% do valor total cobrado aos trabalhadores que vivem no concelho. No caso de Torres Novas em 2022 (último ano de contas fechadas) relativamente a este imposto, o Município arrecadou 1 milhão 987 mil euros.

Ao contrário dos anos anteriores a Câmara e Assembleia decidiram este ano alterar o procedimento, ou seja: vai arrecadar 4% ao invés dos 5% habituais, em termos absolutos deixa de receber cerca de 400 mil euros, 20%.

Esta “devolução” para os trabalhadores significa o quê? Significa que um casal com um dependente e com rendimentos mensais de 2400.00 vai ser ressarcido em 23 euros no final do ano e um casal igualmente com um dependente, mas que aufira 6 000.00 mensais será ressarcido em 170.00.

Esta medida introduz uma entorse à progressividade que é uma característica do IRS, que se pode considerar uma injustiça. A esmagadora maioria dos trabalhadores com salários baixos irão receber um valor ridículo no final do ano, os de maiores rendimentos receberão um valor com algum significado e a autarquia abdica de cerca de 400 mil euros que poderiam ser aplicados, por exemplo, na manutenção de algumas vias rodoviárias que tanto precisam. Esta é a política fiscal à “moda do Iniciativa Liberal”. Se ainda juntarmos o facto de trabalhadores da mesma empresa e com os mesmos rendimentos, estes vão passar a pagar impostos diferenciados só porque habitam em concelhos diferentes, a injustiça ainda se agrava mais.

 Não havia necessidade, esteve bem o BE a defender a manutenção do imposto como nos anos anteriores.

Crónica de opinião publicada no 'Jornal Torrejano'