Tanta casa sem gente e tanta gente sem casa

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

A crise de habitação não pode ser ignorada, não se encontram disponíveis casas para habitar, nem privadas nem públicas.

Poder-se-á dizer que a frase que dá título a esta crónica é datada, mas será? A crise que atravessamos no que respeita à habitação é muito profunda e com consequências de que ainda não conhecemos toda a dimensão.

No concelho de Torres Novas existem cerca de 3 000 casas vazias, segundo o Censos 2021. Umas centenas em ruínas, outras centenas em mau estado de conservação (inabitáveis portanto) e outras, certamente mais de um milhar simplesmente fechadas.

Para além disto existem espaços urbanos delimitados (loteamentos aprovados), vários com as infraestruras já construídas que dão para construir alguns milhares de casas (informação da Câmara Municipal).

As casas têm uma função principal - serem habitadas.

A crise de habitação não pode ser ignorada, não se encontram disponíveis casas para habitar, nem privadas nem públicas. Vivemos uma situação que empurra a habitação para valores incomportáveis para a generalidade dos cidadãos e cidadãs, para a maioria das famílias, seja na aquisição ou no arrendamento.

Sem alternativa, uns ficam ou voltam a viver em casa da família, outros (muitos) dividem casa por vários e outros resta-lhes a rua, sobretudo nos grandes centros urbanos onde o número de pessoas em situação de sem-abrigo cresce de uma forma assustadora. Estas pessoas trabalham, pagam os seus impostos, mas o Estado trata-os como descartáveis.

Mas é bom que se diga que existem habitações para os muito ricos, casas para a classe alta deste País ou para os estrangeiros milionários que não residem no nosso país.

Em Torres Novas o Partido Socialista nunca considerou que a habitação fosse um problema, uma necessidade, sempre achou que as prioridades eram outras, mesmo quando os dados oficiais apontavam para outra realidade.

Em Torres Novas existem casas para reabilitar e existem terrenos para construir.

Em Torres Novas o que não existe é visão e vontade política! Quantas habitações construiu a Câmara nas últimas décadas? Atrevo-me a dizer que reabilitou 2 casas, repito, 2 casas no centro histórico da cidade e porque foi praticamente obrigado.

A CM dirigida pelo PS nunca quis aplicar a lei, tomar conta das ruínas, reconstruir e colocar as casas no mercado de arrendamento e após ser ressarcida dos custos voltar a entregá-las ao proprietário.

Para além da notória falta de habitação está também em questão a insegurança das pessoas no espaço público e a ausência de higiene (veja-se a rua da Amendoeira que só não envergonha os responsáveis políticos do PS, apesar de estarem no poder há 32 anos).

A Estratégia Local de Habitação, documento municipal aprovada pela Câmara e Assembleia Municipal em 2021 sinalizou 75 famílias a viverem sem o mínimo de condições, sem casa de banho, o que a própria Estratégia considera condições indignas. Embora questionado sobre estas situações Pedro Ferreira nunca respondeu de uma forma clara e direta. É inaceitável.

E, pelo que nos é dado conhecer nem o dinheiro do PRR vai ser totalmente aproveitado. Concelhos vizinhos já entregaram as casas às pessoas, em Torres Novas temos agora 6 apartamentos em construção, uma gota de água. É sempre a adiar projetos, uma incapacidade crónica de concretizar, são sempre outras as prioridades.

Lamento profundamente que se ignore ou despreze esta vertente da política local, ainda por cima quando os dados demográficos são muito preocupantes, estamos a perder população e muito depressa. Sem casas para morar não atraímos ninguém.

 

António Gomes

Crónica de opinião publicada no 'Jornal Torrejano'