Começam a escassear as alternativas

Historiador, professor aposentado

Perguntem-me se  acredito se Pedro Ferreira, ou António Rodrigues, serão capazes de resolver, ante a inevitabilidade da mudança,  os problemas concelhios. 

Começam a escassear as alternativas

Preparado para o comentário do que os candidatos à presidência da Câmara de Torres Novas  vêm propondo para o futuro do concelho, cai-me no colo uma entrevista que a revista Visão publica no seu número de12 de Agosto.  Entrevistado, José Pacheco Pereira.  Tema:o mundo em que vivemos, as personagens que, visíveis, ou invisíveis, mexem os cordelinhos do poder público, ou do privado que faz mexer o público.  A efemeridade do que se considera, hoje, importante, amanhã se deitou fora por inútil ou simplesmente se dissolveu. A grande vassoura do tempo a mostrar que o que ontem foi, hoje não o é e o que parece ser fundamental,  amanhã nem uma linha merecerá no comentário do quotidiano.

Aconselho a sua  leitura. Por mim, torná-la-ia obrigatória, da escola à tertúlia de café, da biblioteca à pausa no ofício, das reuniões dos partidos políticos aos absentistas e cansados disto tudo.Principalmente aos jovens, que se manguitam para a sociedade que lhes oferece a rota do ouro e só lhe dispensa o pechisbeque.

Já vivi o suficiente para compreender a importância da actividade de Pacheco Pereira na construção do maior arquivo privado documental existente no nosso país, como na sua acção de investigador, divulgador e comentador, quer pela escrita, quer nos programas televisivos em que participa. Concordo inteiramente quando afirma, e só lamento que a maioria das pessoas, em relação às vozes que oa tentam manipular, «só oiçam com um ouvido».

Passemos então ao discurso eleitoral corrente. É nítida a diferença entre  esquerdas e direitas, e como  tentam solucionar os problemas da cidade e concelho de Torres Novas. A primeira constatação é a de que há mais candidatos e propostas, fora dos partidos tradicionais, o que , à primeira vista, pareceria  uma vantagem democrática, se não se resumissem a avivar  a radicalização entre direita e esquerda, e a escamotear  o essencial da diferença: a defea do mercado  versus melhoria das condições de vida das pessoas.

A segunda é a presença de mais jovens,o que é bom: o mundo é deles.

A direita e os independentistas assentam no investimento, no empreendedorismo, no uso dos fundos comunitários, na criação de novas redes rodoviárias para a circulação das mercadorias e da mão d’obra tanto mais barata melhor, na defesa dum turismo atractivo para a pequena e média burguesias europeias, no crescimento económico baseado no esgotamento do planeta e na exploração da mão d’obra mais qualificada de sempre, a quem oferece a precariedade do emprego ou a emigração como o Eldorado europeu.  

A esquerda que apoio, que  hipocritamente a direita cataloga de extrema esquerda radical,  assenta no combate à crise climática e ecológica e na defesa das populações. Defende que não há democracia , sem justiça social. E esta, não se concretiza, sem que se vá construindo a estrada da igualdade. Ambiente, educação, trabalho, saúde,  reorganização das cidades, poder político partilhado e de maior proximidade com os cidadãos, caminhos que a própria crise climática demonstra serem a alternativa.   E com a consciência de que a «bazuca» de euros que aí vem, a verificar-se a prática obscena do passado recente, não é credora dum verdadeiro optimsmo. A ilusão do progesso assente no divórcio cada vez maior entre riqueza e pobreza só engana quem não se importa de ser enganado.

Desculpe-se-me se transcrevo José  Pacheco Pereira: «Os mesmos de sempre já se colocaram na fila do costume...»

A minha opção eleitoral está na posição que assumi. Ser o inelegível último candidato da lista  concorrente do BE à Câmara Municipal. Por direito de cidadania, conquistado em 25 de Abril de 1974. Por compromisso com o meu tempo. 

Gostaria que a regionalização, aprovada por unanimidade em 1991, saísse do papel e permitisse a concretização duma política de maior proximidade-. Gostaria que o interior nacional vencesse o egoísmo de Lisboa  e se autonomizasse e impusesse as suas próprias e específicas identidades. Gostaria que os jovens tivessem empregos e alternativas nos seus concelhos e tomassem nas mãos o  momento de dirigirem os destinos das suas regiões. Gostaria que a corrupção fosse denunciada  e a tempo combatida.

Não são os centros comerciais e afins, nem as grandes e fracassadas promessas de desenvolvimento industrial, nem as actividades turísticas mantidas por festas dum nacionalismo historicista balofo, ou por proximidade a centros religiosos, que inverterão a regressão demográfica, o envelhecimento populacional, a fuga da juventude, a crise climática provocado pelo materialismo  do progresso  económico baseado no carvão, no petróleo,  no cimento e no plástico. Na mentalidade consumista duma sociedade individualista assente no ter, ter mais, ter muito, ter tudo.

Fica para reflexão a chamada de atenção da jovem Greta Thunberg: «a  crise climática e ecológica não pode simplesmente mais ser resolvida no quadro dos sistemas políticos e económicos actuais. Isto não é uma opinião, apenas uma questão de matemática».O alerta vermelho lançado, na última semana, pela carta de centenas de cientistas, mostra quão certa estava a jovem, quão mentirosos andavam os poderes do mundo.

Perguntem-me se  acredito se Pedro Ferreira, ou António Rodrigues, serão capazes de resolver, ante a inevitabilidade da mudança,  os problemas concelhios. Os mais de trinta anos que ambos têm de gestão camarária e a realidade do concelho mostram que houve um tempo, uma oportunidade, e muita obscuridade nas suas trajectórias do poder.A luta de galos que hoje publicitam só prejudica a necessidade dum projecto de ultrapassagem da estagnação concelhia,que, ambos, juntos,antes do divórcio, construiram e defenderam.

A maior incógnita, na votação que se aproxima, nem é a das esquerdas, BE e PCP, ou do PS e dos independentes, da extrema-direita, mas do PSD. Entalado entre o centro social-democrata e a extrema-direita dum renascido  salazarismo, Rui Rio vê o fantasma de Passos Coelho a esvaziar as suas ambições centristas e parte do partido a mover-se de armas e bagagens para a Iniciativa Liberal ou o Chega, os independentes e o próprio PS.

Setembro é já o mês seguinte.