À socapa, sem que se conheça qualquer decisão camarária, apareceram três oliveiras plantadas no jardim da Liberdade, junto à Escola de Polícia.
Ora, as oliveiras não fazem, nunca fizeram parte do projeto daquele local cujo objetivo sempre foi enaltecer a Liberdade e homenagear os que lutaram antes do 25 de abril pela mesma.
Perguntado (por António Rodrigues), o presidente da câmara atabalhoado lá foi dizendo que foi uma opção do PS, as três oliveiras estavam relacionadas com a vida dos três pastorinhos de Fátima e foram oferecidas à Câmara pelo proprietário dum olival, situado em Torres Novas, onde os três pastorinhos tinham estado a trabalhar e a conviver.
Esta justificação anedótica é de levantar as mãos ao céu, nada disto está escrito ou documentado, mas mesmo que estivesse não justifica esta habilidade manhosa de querer ocupar o espaço público e laico com manifestações de ordem religiosa.
A igreja católica tem esta facilidade de penetrar em locais, em espaços que não lhe dizem respeito porque há sempre alguém dentro das instituições que deveria respeitar a laicidade do Estado, mas faz sempre o contrário, ou porque lhe dá jeito ou por ignorância.
Esta intromissão abusiva naquele espaço é no mínimo uma afronta, misturar os valores de Abril, que é de todos e todas com a crença de cada um, não lembrava ao diabo, mas lembrou ao presidente da Câmara.
A seu tempo veremos a respetiva placa e dessa forma teremos o espaço que era por inteiro dedicado à Liberdade e à democracia partilhado com um acontecimento religioso, que nem sequer recolhe a unanimidade dos crentes.
A instituição igreja católica foi um dos braços direitos da ditadura, os torrejanos e torrejanas que lutaram pela liberdade (muitos católicos onde se incluem alguns padres) não merecem que a memoria consagrada no Jardim da Liberdade seja partilhada.
Opinião publicada no "Jornal Torrejano"