É só fazer as contas

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

A viragem política para a direita, da qual o PSD também tirou proveito (vitória amarga) é de facto uma realidade, que nenhum democrata pode ignorar.

Os resultados eleitorais são de todos conhecidos, assim como os vencedores e os vencidos.

A democracia que dizem alguns, está doente e corre o risco de entrar em coma ditou para o concelho de Torres Novas o fim da maioria absoluta do PS, embora conservando a presidência da câmara por uma unha negra, tal como há 32 anos atrás, pouco mais de 80 votos.

Os protagonistas mudaram finalmente ao fim de 32 anos, não era necessário esperar por um novo ciclo imposto pela lei, bastava o espírito de missão de serviço público e os lugares executivos teriam sido preenchidos em anteriores eleições por outros/as cidadãos/as e o concelho teria ficado a ganhar. Era notório o desgaste e até o desnorte desta equipa que agora deixa o executivo municipal.

A diferença, grande, deste ciclo eleitoral em relação ao anterior é que agora estamos numa deriva para a direita e extrema direita, há 32 anos o rumo que se começou a trilhar era para a esquerda.

Vejamos em concreto o caminho do eleitorado neste nosso concelho com os votos do partido Chega e do Bloco de Esquerda – o Bloco apresentou uma candidata conhecedora do concelho, conhecedora dos dossiês, com experiência política a vários níveis, apresentou um programa muito claro sobre a real situação do território e as propostas e ideias para o presente e estratégia para o concelho. A candidata teve um desempenho na campanha eleitoral digno de registo, em particular nos debates com os seus opositores, demonstrou claramente ser a melhor preparada para o cargo a que se candidatavam ( reconhecido inclusive pelos seus opositores). O BE vinha de um mandato francamente positivo com participação na Assembleia Municipal muito acima da média, deu efetivamente um contributo para um melhor concelho. No final contou pouco mais de 800 votos.

Do partido Chega não se conhece qualquer atividade ou participação pública dos seus candidatos, não se conhecem sequer os candidatos, não se conhece qualquer programa, quaisquer ideias para esta terra, ninguém sabe ao que vêm e de onde vêm. No final contaram quase 2500 votos.

Lamentavelmente 2500 eleitores de Torres Novas entregaram o seu voto ao vento, sem conhecerem a direção do vento ou a sua força, sem saberem nada do que os espera daqueles lados, nos próximos quatro anos. É muita irresponsabilidade, muita ignorância mas também muita vontade de acertar contas com o 25 de abril.

A viragem política para a direita, da qual o PSD também tirou proveito (vitória amarga) é de facto uma realidade, que nenhum democrata pode ignorar.

A esquerda tem obrigatoriamente de refletir para poder defender os valores de abril, a liberdade, a democracia, os direitos dos trabalhadores, os direitos das mulheres, os direitos das minorias.

É só fazer as contas.

Crónica de opinião publicada no 'Jornal Torrejano'