Na política, há sempre situações que nos surpreendem mas que, acima de tudo, nos cansam e criam desconfiança.
Sempre achei que devemos ter conversas abertas. Estar na política de uma forma construtiva e não vivê-la como se estivéssemos a falar de futebol, em que os outros são os maus com intenções duvidosas e nós somos os bonzinhos virtuosos.
É um trabalho a tempo inteiro estarmos sempre a tentar colocarmo-nos no lugar dos outros e perceber a sua perspetiva. Afinal, também é isso a democracia.
Significa isso que existem regras escritas e outras não escritas que temos de respeitar.
Para quem está na política há muitos anos, há linhas que não se ultrapassam. Para o Presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, essas linhas já deviam ser muros mas ainda assim, por vezes, lá vai saltando a muralha.
O Bloco de Esquerda foi informado que um projeto pioneiro com cabras sapadoras financiado com dinheiro da Junta de Freguesia de Pedrogão e da Câmara Municipal, estava, e estou a ser simpático, parado. As cabras estão mortas e ninguém falava do assunto. Denunciou-se na câmara e ninguém parecia saber da situação.
Ora, a Junta de Freguesia de Pedrogão não gostou que um assunto polémico fosse dado ao conhecimento de mais pessoas. Arregaçaram as mangas e dedicaram algum tempo a escrever um ofício. Poderia ter sido comunicado À imprensa, podiam ir à reunião de câmara e explicar o que se passou mas decidiram algo diferente. Pedir ao Presidente da Câmara Municipal que lesse os dislates que tinham magicado.
Pedro Ferreira decide que é uma ótima ideia e lê, em reunião e em voz alta para dar conhecimento, todo o ofício. Os dislates misturavam-se com um ataque ao Bloco de Esquerda. Muito mais direto e claro do que as explicações que eram necessárias sobre o porquê das cabras estarem mortas.
Alguém acredita que, se uma junta de freguesia que não tivesse maioria do Partido Socialista elaborasse um ofício, Pedro Ferreira o ia ler numa reunião de câmara? Ou melhor, se esse ofício tivesse um ataque ao Partido Socialista, Pedro Ferreira o ia ler? Claro que não.
Aproveitou a deixa, as palavras não eram dele, lê em voz alta e lava as mãos. Mas deve ter-lhe dado um gosto especial ler aquelas boquinhas à vereadora do Bloco.
Isto é uma muralha que não se ultrapassa. Mas em política, para alguns, vale tudo. Podem criticar a postura de António Rodrigues quantas vezes quiserem mas, pelas ações, demonstram que o que os separa é apenas o poder.
Este tipo de atitudes, é o modus operandi de muitos na política. E acredito que seja por isso, que muitos se desinteressam. Mas quando as pessoas com boas intenções se desinteressam, sobra apenas isto. Boa semana
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