Nesta época do ano...

Estudante, activista do BE

"(...) há milhares de pessoas que vivem esta altura com o coração apertado, marcados pela incerteza e pelo medo do futuro. Para algumas famílias, o brilho das luzes contrastou com a escuridão das dúvidas"

 

Nesta época do ano, enquanto muitas famílias celebraram o Natal e o Ano Novo com mesas fartas e reencontros, há milhares de pessoas que vivem esta altura com o coração apertado, marcados pela incerteza e pelo medo do futuro. Para algumas famílias, o brilho das luzes contrastou com a escuridão das dúvidas: serão despejados no dia 26 de dezembro? Conseguirão manter um teto para os seus filhos no início de 2025?

Outras pessoas enfrentam o frio rigoroso do inverno sem um teto e paredes para se abrigar, vivem nas ruas, invisíveis para muitos, mas cujas histórias gritam por ajuda. Em noites que deveriam ser de conforto e calor humano, o frio é o único companheiro constante. Em 2023, Portugal continental registou um aumento significativo no número de pessoas em situação de sem-abrigo, totalizando 13.128 indivíduos. Destas, 7.705 viviam na condição de sem-teto, ou seja, nas ruas ou em abrigos de emergência, enquanto 5.423 estavam em alojamentos temporários (1)

E como ignorar os trabalhadores e trabalhadoras que vivem na corda bamba, sem saber se o Ano Novo trará a segurança de um emprego? A recente notícia do encerramento da fábrica da Tupperware em Constância, com duas centenas de despedimentos marcados para o dia 8 de janeiro, é um lembrete cruel de que a crise não faz pausas para as festas. Estas trabalhadoras e trabalhadores, que ao longo de anos dedicaram o seu esforço para sustentar as suas famílias, entram em 2025 sem certezas, apenas com o peso nos ombros de um futuro incerto.

Mas é também o momento de falar sobre os trabalhadores por turnos, tantas vezes esquecidos nas reivindicações laborais e que continuam a carregar um fardo muito pesado. A vida de quem trabalha por turnos é marcada pela falta de descanso, pela dificuldade em conciliar a vida familiar e pela degradação da saúde. É por isso que é preciso exigir mais.

A petição pública que foi lançada visa garantir os direitos de cerca de 800 mil trabalhadores por turnos em Portugal. Exige a atribuição obrigatória de subsídio de turno, uma redução do horário semanal para 35 horas, dois fins de semana de descanso a cada seis semanas, pelo menos 24 horas de intervalo entre turnos e o direito à reforma antecipada, contabilizando seis meses de redução na idade por cada ano de trabalho em turnos.

Estas medidas não são luxos, são o mínimo necessário para proteger quem sacrifica tanto pelo funcionamento do nosso país.

A luta pelos direitos dos e das trabalhadoras é uma luta de todos e todas nós. Não podemos aceitar que continuem a ser tratadas como descartáveis ou como peças de uma máquina que só enriquece os patrões. Mas não nos basta apenas resistir. Precisamos construir alternativas. O próximo ano será de mobilização e 2025 traz-nos as eleições autárquicas, um momento decisivo para os nossos municípios. Cabe-nos a nós olhar para as realidades locais, lutar por soluções concretas e escolher a mudança.

Porque a mudança começa aqui, nas nossas freguesias, nas nossas cidades, nos nossos concelhos. Que em 2025 preparemos o terreno para transformar os nossos municípios em lugares mais justos, solidários e que respeitem quem neles vive e trabalha. O futuro constrói-se agora, conseguimos conquistar o que parece impossível.

Mas nesta reflexão de final de ano, não posso deixar de olhar para além das nossas fronteiras e lembrar as famílias da Palestina. Em Gaza e na Cisjordânia, milhares de pessoas vivem em sofrimento, sob o peso da ocupação e dos ataques de Israel. O genocídio em curso contra o povo palestiniano não é apenas uma tragédia humanitária, é um crime que clama por justiça. As crianças que vivem sob bombardeamentos, os pais que lutam para proteger os seus filhos, e as famílias que veem os seus lares destruídos são a prova viva da urgência de uma resistência global contra esta barbaridade.

É essencial que, enquanto sociedade, defendamos o fim imediato da ocupação, a suspensão do apoio militar a Israel e a implementação de sanções até que os direitos humanos e a autodeterminação do povo palestiniano sejam garantidos. Nesta luta pelo fim da ocupação da Palestina por Israel também se junta a luta contra a ocupação russa na Ucrânia. A solidariedade com a Palestina e com a Ucrânia não é apenas um gesto, é um dever moral. Como nos ensinou o legado de Marielle Franco, a luta por justiça não pode ser silenciada diante da opressão.

Cabe a cada um de nós erguer a voz e resistir.

(1) Fonte: Observador “Número de pessoas sem abrigo em Portugal continental aumentou para mais de 13 mil em 2023”