A democracia é uma chata!

Autarca. Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Torres Novas.

Aprovam-se alterações significativas no património da urbe, muda-se a face da cidade sem que ao menos a Câmara Municipal tenha tempo de analisar tais alterações, exista algum contraditório

O governo está a despejar carradas de dinheiro nas autarquias, porque é preciso garantir a vitória dos seus nas próximas eleições e porque o dinheiro do 2020 não foi aplicado atempadamente e agora é preciso aproximar de valores de concretização que não nos envergonhem. Tudo se conjuga e tudo se repete.

E a autarquia torrejana como se comporta?

A autarquia, por sua vez, despeja nas reuniões de câmara ratificações de despachos do presidente (qual rei do alto do seu poder) como se isso fosse normal e não excecional como a lei prevê. Mas não é nem pode ser normal, pelo menos para quem tem da democracia um entendimento de participação, responsabilidade e transparência. A cultura e as práticas democráticas há muito que desapareceram por estes lados, as maiorias absolutas tudo cilindram, tudo tentam abafar.

As últimas reuniões do executivo municipal têm sido fartas em apresentação de despachos cujos assuntos facilmente chegam às 1000 folhas de papel para ler, refletir, reunir e tomar posição… é humanamente impossível votar seja o que for em consciência.

Aprovam-se alterações significativas no património da urbe, muda-se a face da cidade sem que ao menos a Câmara Municipal tenha tempo de analisar tais alterações, exista algum contraditório, algum contributo, alguma proposta alternativa, nada. Já não falo dos vereadores da maioria que não se lhe conhece uma palavra que seja para o aprofundamento do debate, seja em que área for.

Isto para não falar da participação cidadã, do direito que as pessoas têm a pronunciarem-se sobre as principais alterações que se preveem  acontecer na sua cidade e no concelho.

O argumento é a falta de tempo para apresentação de candidaturas aos fundos da União Europeia.

Mas a situação é tão grave que choca até o mais condescendente, nos documentos verifica-se que os projetos estão concluídos há dois e mais anos, bem escondidos da oposição. É o caso da reabilitação do interior do Castelo ou do projeto para acesso ao mesmo do lado da Praça dos Claras.

Tomem lá 1000 folhas e daqui a três dias pronunciem-se.

Estranha democracia esta vinda de quem prometeu proximidade….

António Gomes

Crónica publicada no "Jornal Torrejano"