A relação da Renova com o rio Almonda
Intervenção de Rui Alves Vieira, no PAOD (Período Antes da Ordem do Dia)
Hoje irei trazer a este PAOD um tema sobre a qual não pode, nem deve existir qualquer dogma, e por isso, é um tema que não pode ficar fora do debate público e sobre o qual não podemos, nem devemos ter medo de refletir
Trata-se da relação que a Fábrica da Renova tem com o Rio Almonda e, naturalmente, com a água do Rio Almonda.
A instalação da Renova na nascente do Rio Almonda em finais da década de 30 – início da década de 40 do Século passado, portanto há cerca de 80 anos, foi antecedida de um estudo sobre a qualidade da água, que considerou a água do Almonda como a quarta melhor água do país para a fabricação de papel.
Ou seja a Renova está em Torres Novas por que é aqui que está o sangue que lhe corre nas veias: um sangue de enorme qualidade; o bem mais precioso de todos – a água do Rio Almonda.
Na sua laboração, a Renova capta logo na nascente do Rio cerca de 2,5 milhões de m3 de água por ano, ou seja cerca de 280 m3 por hora.
Parte desse consumo passa pelas Etares e é devolvido ao Rio – obviamente em condições de pureza inferiores aquela em que foi captada.
Outra parte é efetivamente consumida e representa cerca de 900 mil m3 por ano, ou seja cerca de 100 mil litros de água por hora; ou, se quiserem cerca de 2 mil litros por minuto.
A utilização desta enorme quantidade de água por parte da Renova é gratuita, já que a licença de captação de águas superficiais só exige o pagamento de uma Taxa de Resíduos Hídricos que no ano transato resultou num pagamento de cerca de 5 mil euros à Agência Portuguesa do Ambiente.
A água faz parte do processo produtivo da Renova. Ou seja o fabrico de papel precisa de água (muita água) e de preferência água de qualidade. Este é verdadeiramente o Grande Prémio que a comunidade Torrejana oferece à Renova há cerca de 80 anos.
Obviamente que está tudo em conformidade com a legislação em vigor. Está tudo legal. Mas como eu próprio costumo dizer, pode haver coisas que são legítimas mas não são legais, mas também há situações que são legais mas a comunidade não consegue entender a sua legitimidade.
Como explicar a um pequeno restaurante da cidade, que tem que pagar setecentos ou oitocentos euros de água por ano com um consumo anual de 25 ou 30 m3 de água de água, quando uma fábrica que consome quase 1 milhão de m3 de água de enorme pureza, como é a água do Rio Almonda, paga menos que 6 mil euros por ano.
Queremos e temos a certeza que a Renova irá ficar em Torres Novas durante muitos anos. Torres Novas precisa da Renova no seu tecido económico, mas a Renova também precisa de Torres Novas para a sua matéria-prima mais preciosa de todas – a água do Rio Almonda.
Mas também temos consciência que no século XXI, uma empresa moderna não se mede só pelos milhões de euros que custa uma máquina mais moderna e com maior capacidade de produção. Uma empresa moderna mede-se também e cada vez mais pela sua responsabilidade social e ambiental e pelos índices de satisfação que trazem à comunidade em que estão inseridos e que neste caso, é o Concelho de Torres Novas.
Senhor Presidente e membros desta Assembleia: o Rio Almonda, as suas águas e as suas margens não podem ser propriedade de ninguém. O Rio é pertença de toda a comunidade e esse terá que ser o desiderato de todos os torrejanos: lutar pela defesa intransigente de um Rio que a todos pertence.
E essa tem que passar a ser, de uma vez por todas, uma prioridade da liderança política de Torres Novas.
29.04.2021